Pular para o conteúdo principal

A JOGADA DAS TOGAS NEGRAS E A ELEIÇÃO PRESIDENCIAL DE 2018

No dia 17 de fevereiro de 2016, o Supremo Tribunal Federal (STF), por maioria de votos, revisou sua jurisprudência que garantia aos cidadãos serem presos somente depois de transitada em julgado a sentença penal condenatória, o que assegurava o princípio da inocência.
Agora, mantida a condenação nas instâncias inferiores (primeiro e segundo graus), o acusado poderá ser recolhido à prisão mesmo sem que tenha transitado em julgado o processo criminal.
Esta decisão nada ingênua do STF foi manifestada pela maioria dos ministros nomeados pelo Partido dos Trabalhadores (Teori Zavascki, Edson Fachin, Luis Roberto Barroso, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Dias Toffoli), além de Gilmar Mendes, nomeado no governo Fernando Henrique Cardoso, e pode ser uma jogada direcionada  ao ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva,  que a direita reacionária deseja ver preso, mesmo sem que tenha sido comprovada a prática de qualquer delito.
Imaginando, de forma esdrúxula, que o juízo da midiática operação “lava jato” seja estendido, indevidamente, ao ex-presidente, e havendo um rápido julgamento, com resultado condenatório tanto em primeiro como em  segundo grau, Lula poderá ficar fora da eleição de 2018, por força da jogada das “togas negras” do STF, que revisaram do nada uma jurisprudência já consolidada na ordem jurídica brasileira.
A posição da maioria dos ministros do Tribunal constitui uma falácia jurídica, que poderá semear o golpe político contra Lula e o PT,  e contrapõe-se às garantias constitucionais que asseguram a presunção de inocência e o trânsito em julgado do processo criminal.
 Portanto, o perigo para a democracia brasileira pode estar vindo dos tribunais e traduz-se na indevida politização da justiça, representada pelas manifestações dos ministros do STF, que imaginam ter a capacidade de sobrepor-se à política e cassar, por caminhos transversos,  candidaturas com grande força junto ao eleitorado, barrando os avanços sociais dos últimos anos.
É certo que os tribunais não podem substituir a vontade popular, colocando-se a serviço de forças reacionárias que querem impor a visão equivocada de que as massas são despreparadas para escolher seus legítimos representantes.
Diante da forçada narrativa da mídia tradicional, ficam as seguintes frases para reflexão, a fim de se garantir o processo político-democrático:
“Os magistrados jamais se convertem em políticos” (Tocqueville); e

“Os dirigentes mais importantes do proletariado na Assembléia Nacional caíram, vítimas dos tribunais” (Marx).

Comentários

  1. Excelente reflexão sobre a decisão do STF. O que mais ainda está sendo preparado visando as eleições de 2018?!

    ResponderExcluir
  2. O mais grave é que a direita reacionária se utiliza de conquistas da esquerda progressista (como as leis do ficha limpa e compra de votos) em seus argumentos jurídicos para cassar mandatos obtidos nas urnas pelo voto popular. A tentativa de cassação de Dilma, no TSE, será com fundamento na lei de iniciativa popular encaminhada pela CNBB/OAB.
    A quebra do princípio da ionocencia, com condenação prisão antes do trânsito em julgado, teve como suporte para os ministros do STF a lei de iniciativa popular da CNBB/OAB da ficha limpa.
    Acredito que a sociedade tem que ser mais cética para questionar mais um poder repressivo, que ainda usa togas e linguagem difícil num mundo tropical e de formação popular.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

SEQUESTRO DAS NAÇÕES PELO CAPITAL

Foto de Aly Song/Reuters O jornalista Andy Robinson, em seu livro “Um repórter na montanha mágica” (Editora Apicuri, 2015), revela de que forma os integrantes do exclusivo clube dos ricos de verdade comandam a política universal, a partir da gelada Davos, e patrocinam a destruição de nações inteiras para alcançar seus objetivos econômicos particulares. Muito antes que alguns cientistas sociais cunhassem a expressão “tropa de choque dos banqueiros”, ao se referirem ao grupo considerado como classe média, Robinson desvendou como aqueles menos de um por cento da população universal manipulam sem qualquer piedade os outros noventa e nove por cento, inclusive promovendo ações sociais de suposta bondade, que contribuem para aumentar e perpetuar a miséria entre os povos. Ao falar sobre as mencionadas ações caritativas, patrocinadas por bilionários como Bill Gates e o roqueiro Bono da banda U2, Slavoj Zizek rotulou seus realizadores   de “comunistas liberais”, que manipulam org...

Superação do fascismo no Brasil

A nau dos loucos de H. Bosch Por Jorge Folena   Infelizmente, as instituições têm normalizado o fascismo no Brasil. E foi na esteira dessa normalização do que deveria ser inaceitável que, na semana passada circulou nas redes sociais (em 02/07/2024) um vídeo de treinamento de policiais militares de Minas Gerais, em que eles corriam pelas ruas cantando o refrão “cabra safado, petista maconheiro”. [1] O fato configura um absurdo atentatório à Constituição, pelo qual todos os envolvidos (facilmente identificáveis) deveriam ter sido imediatamente afastados das suas funções, inclusive sendo determinadas prisões disciplinares, e, em seguida, sendo processados administrativa e criminalmente.  Outro caso esdrúxulo foi o de um desembargador do Paraná, que em plena sessão de julgamento, não teve qualquer escrúpulo em derramar toda a sua misoginia, ao criticar o posicionamento de uma mulher (o caso analisado no tribunal era de uma menina de 12 anos, que requereu medida protetiva contra a ...

O país ingovernável

  Por Jorge Folena   No dia 27 de julho de 1988, o ex-presidente José Sarney, com certo tom de ameaça, dirigiu-se aos constituintes, em cadeia nacional de rádio e televisão, para afirmar, ao longo de vinte e oito minutos, que o texto constitucional que estava para ser aprovado deixaria “o país ingovernável”.  Na verdade, José Sarney manifestou na ocasião os interesses mais atrasados da classe dominante brasileira, que entendia que o reconhecimento dos amplos direitos sociais inseridos na Constituição brasileira de 1988 teria um grande impacto sobre o orçamento geral da União, controlado para satisfazer apenas os interesses dos muito ricos, deixando os pobres entregues à própria sorte. É importante lembrar, por exemplo, que, antes da Constituição de 1988 não existia o sistema único de saúde com atendimento universal para todos os brasileiros.  E o presidente Sarney, com o velho e surrado argumento, afirmava que o novo texto constitucional representaria um desencorajam...