Foto de Aly Song/Reuters
O
jornalista Andy Robinson, em seu livro “Um repórter na montanha mágica”
(Editora Apicuri, 2015), revela de que forma os integrantes do exclusivo clube
dos ricos de verdade comandam a política universal, a partir da gelada Davos, e
patrocinam a destruição de nações inteiras para alcançar seus objetivos
econômicos particulares.
Muito
antes que alguns cientistas sociais cunhassem a expressão “tropa de choque dos
banqueiros”, ao se referirem ao grupo considerado como classe média, Robinson
desvendou como aqueles menos de um por cento da população universal manipulam sem
qualquer piedade os outros noventa e nove por cento, inclusive promovendo ações
sociais de suposta bondade, que contribuem para aumentar e perpetuar a miséria
entre os povos.
Ao
falar sobre as mencionadas ações caritativas, patrocinadas por bilionários como
Bill Gates e o roqueiro Bono da banda U2, Slavoj Zizek rotulou seus
realizadores de “comunistas liberais”,
que manipulam organizações não governamentais (ONGs) “sem fronteiras”, que apregoam
trabalhar para combater a fome, doenças, desmatamentos florestais, exploração
infantil, abusos contra mulheres etc., em países pobres da África, Ásia e
América Latina.
Na
obra “Violência, seis notas à margem” (Relógio D’Água Editores, 2009), Zizek diz
que “os comunistas liberais são pragmáticos. Odeiam as abordagens doutrinárias.
Para eles, hoje não há uma classe trabalhadora una e explorada. Há simplesmente
problemas concretos que é necessário resolver.”
Conforme
observado antes por Zizek e apurado diretamente nas reuniões do fórum econômico
de Davos por Andy Robinson, este pragmatismo revela a manipulação que o capital
financeiro promove contra os povos do mundo, disfarçada sob um véu de bondade
humanitária, mediante a afirmação de que “o mercado e a responsabilidade social
não são aqui termos que se oponham” (Zizek). Porém, em sua lógica do Estado
mínimo, busca impor uma espécie de governo global, controlado exclusivamente pelo
grupo dos um por cento mais ricos do mundo.
Para
a imposição desta lógica, o capital, com seu poderio financeiro, sequestrou
para si a política e, em vários lugares do mundo, estabelece e patrocina os agentes
locais que atuam para a defesa dos seus negócios.
Assim,
não prevalece mais, nos dias de hoje, a disputa de Estados contra Estados, pelo
controle de riquezas materiais e culturais, em favor dos capitais locais, como apontado
nas teorias clássicas do imperialismo, de Rosa de Luxemburgo e Lenin.
O
quadro tornou-se mais grave em razão da crescente concentração de capitais, que,
na prática, faz com que a maioria dos governos e suas respectivas burocracias
trabalhem não mais para seus povos, mas para os bancos e financistas, que não
têm pátria nem alma.
A
partir de Davos ou de qualquer outro recanto do mundo, este contingente de menos de 1% controla todas as pessoas e riquezas
do planeta e tem a seu serviço forças militares (como as da Organização do
Tratado do Atlântico Norte – OTAN), pagas com recursos da arrecadação de
tributos dos 99%, usadas para reprimir e intimidar outros povos; enfim, não
apenas mandam e desmandam, como o fazem usando os recursos suportados pelo
trabalho da sociedade.
Com
efeito, trabalhar para resgatar a soberania nacional passa a ser um desafio,
nesta luta sem trégua pela qual os financistas tentam retirar dos povos a sua
autodeterminação e dignidade.
Mais
de noventa e nove por cento da população mundial, em vários países, tornou-se
refém do mercado financeiro, num processo de servidão perversa em que se imagina
haver liberdade, mas onde não há condições para o ser humano conseguir suprir
suas necessidades básicas.
Os
governos que resistem às imposições do mercado são postos sob ameaça de
ataques, bloqueios ou impedimentos, a exemplo do que ocorreu entre 2013 e meados
de 2016 no Brasil, e ocorre atualmente nos Estados Unidos da América do Norte,
por conflitarem com os interesses da ordem financeira internacional; e outros governos,
em países como Turquia, Irã, Rússia e
China lutam para manter a defesa dos interesses nacionais.
Como
registrado por Micklethwait na Revista The Economist/Carta Capital, em dezembro
de 2014, “os pobres na china progrediram mais rapidamente que seus pares na
democrática Índia”, o que pode demonstrar a opção do governo chinês de trabalhar
para a soberania de seu povo. Mas os agentes do capital financeiro
internacional trabalham para confundir a cabeça das pessoas, alegando que os
chineses são “capitalistas predatórios” que querem tomar o mundo.
Trabalhar
pela soberania é o oposto do que se faz hoje, no Brasil do desgoverno Temer, representado
na figura do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ex-presidente do Bank
Boston, comprado pelo mesmo Itaú que também comprou o Citibank.
A
entidade a que chamamos mercado age em benefício de apenas um por cento da
população mundial, os mais ricos do mundo, para que possam tornar-se cada vez
mais ricos.
Para
alcançar seus objetivos, o mercado sequestra as nações e, por intermédio das
grandes empresas de comunicação, manipula a informação e impõe crises
econômicas que possibilitam, principalmente, o incremento do discurso dos
fascistas, travestidos de nacionalistas, que buscam cooptar o “homem massa”, que vaga sem esperança neste mundo do
desemprego e da exploração.
Comentários
Postar um comentário