O
pensador alemão Max Weber afirma que política é luta, pois é pela política que
os povos organizados conquistam as transformações institucionais, por meio do
Estado. A melhora da qualidade da educação, saúde, previdência, transporte público
etc. somente será possível com a participação dos integrantes da sociedade na
vida política de suas cidades e estados e, obviamente, do país.
O
que se observou na eleição municipal do dia 02 de outubro de 2016, em diversas
cidades brasileiras, foi a ausência massiva do eleitorado, representada pelo
expressivo quantitativo de abstenções, votos nulos e brancos.
Na
cidade do Rio de Janeiro este somatório chegou a mais de 41% dos leitores aptos
a votar. Os dois candidatos que foram
para o segundo turno na Cidade do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella e Marcelo
Freixo, obtiveram 1.395.625 votos; enquanto o somatório de abstenções, votos
nulos e brancos foi de 1.866.621.
Em
Belo Horizonte, os candidatos que vão para o segundo turno, João Leite e Kalil,
obtiveram juntos 709.795. As abstenções, votos nulos e brancos somaram 741.915
votos, constituindo 43% dos listados a votar.
Em
São Paulo, o candidato que venceu no primeiro turno, João Dória, do PSDB,
obteve 3.085.187 votos; porém, foi de 3.096.304 o somatório de abstenções,
votos nulos e brancos.
Estes
números se repetiram em diversas capitais e cidades do interior do Brasil, em
que o percentual de abstenções, votos nulos e brancos foi superior aos votos
obtidos por candidatos eleitos.
O
resultado da votação do dia 02 de outubro de 2016 é efeito de um longo processo
de desgaste da política tradicional, pela qual os políticos e seus partidos
ditam o modo de governar à população, que somente comparece para elegê-los mas
não é chamada a compartilhar a responsabilidade em importantes decisões para as
cidades, os Estados e o país.
Neste
efeito pode-se incluir também o desencanto pela democracia e o esvaziamento da
importância do voto, na medida em que muitos candidatos eleitos não cumprem com
suas promessas de campanha, trocam de partido a todo momento etc.
Pode-se
até mesmo, como hipótese, atribuir essa resposta da urnas a um repúdio pelo
afastamento da presidenta da República, eleita pela maioria do povo brasileiro,
que não teve seu voto respeitado pela minoria derrotada no último processo
eleitoral. Assim, votar pra quê?, indagam-se muitos eleitores, ao perceberem
que instituições que supostamente teriam o dever jurídico de assegurar a ordem
institucional contribuem para quebrar a democracia.
Mas,
independentemente de tudo isto, o cidadão não pode fugir das suas
responsabilidades como eleitor, pois, ao se abster de votar ou anular seu voto,
abre caminho para os que defendem a desordem democrática, que, assim, podem
conquistar com mais facilidade o poder e implementar seus projetos contra a
população, a exemplo das anunciadas propostas de redução de direitos
trabalhistas e previdenciários e a “reforma” da educação que retira disciplinas
fundamentais para o conhecimento humano e amadurecimento político, dentre
outras.
Por
tudo isto, não dá para ficar somente reclamando, é necessário participar
ativamente da vida política. Caso contrário, abrem-se as portas para a
aprovação de medidas prejudiciais ao próprio eleitor, que não assume as suas
responsabilidades e, independentemente de suas convicções ideológicas, renuncia
à luta política, muitas vezes por mero comodismo.
Por
fim, ao contrário do anunciado por analistas e políticos conservadores, não
foram os partidos tradicionais de direita os vencedores da última eleição, pois
muitos candidatos eleitos no primeiro turno não têm legitimidade material para
governar, diante dos números apresentados. É o caso da Cidade de São Paulo, onde
o somatório de abstenções, votos nulos e brancos foi superior aos votos
conquistados pelo candidato eleito.
Portanto,
a mera “conquista do estado” por partidos conservadores não é o mais importante
neste momento institucional do país. É preciso tentar compreender o que a
negação ao voto representa para o futuro do Brasil e dos seus cidadãos. Pois,
ao contrário do que imaginam certos políticos, que se julgaram vencedores na
última eleição, “democracia sem povo é simulacro”.
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