Nicolau
Maquiavel, em “O príncipe”, afirmou que “os homens, em geral, julgam mais pelos
olhos do que pelas mãos, pois todos podem ver, mas poucos são os que sabem
sentir.”
Convidado
para receber a medalha do mérito militar nas comemorações do Dia do Exército,
em 19 de abril de 2017, o juiz primitivo do Paraná demonstrou grande satisfação
pelos apertos de mãos recebidos e sorrisos compartilhados.
Na
celebração os anfitriões exibiram o aparato de suas forças aos olhos dos
presentes, inclusive do delatado “MT”, que também recebeu gentil aperto de
mãos.
Em
qualquer democracia regular, a força reside no povo, único detentor legítimo do
poder, que todos, em gesto metafísico, entregam ao Estado com a finalidade de
evitar conflitos, desordens e guerras, como formulado por Hobbes.
Conforme
confessado formalmente por “MT”, em entrevista a jornalista da TV Bandeirantes,
divulgada também em vídeo pelo Twitter oficial do Palácio do Planalto no
domingo 16 de abril de 2017, a causa do rompimento da democracia no Brasil, decorrente
do impeachment de Dilma Rousseff em 2016, foi porque a presidenta reeleita em
2014 não satisfez os interesses pessoais de Eduardo Cunha. Isto porque, por
ocasião do processo de cassação de Cunha na Câmara dos Deputados, Dilma não
autorizou os deputados do seu partido a votarem pelo arquivamento do processo
na Comissão de Ética. Por isso Dilma foi destituída, mesmo sem ter cometido
qualquer crime, como reconheceu “MT”, e em decorrência estabeleceu-se esta que
talvez seja a maior crise institucional no país, que até 2014 crescia e
prosperava, como demonstram dados da Pesquisa de Amostra Domiciliar do IBGE
(PNAD).
Com
o impeachment, traçado e autorizado pelo Supremo Tribunal Federal, a
Constituição de 1988 foi rasgada e a democracia e a soberania popular foram
rompidas, fazendo o Brasil ingressar numa fase de ausência de legitimidade de
poder institucional.
A
ilegitimidade dos Poderes Executivo e Legislativo agravou-se com a divulgação
das confissões dos donos de empresas – que manifestaram que há mais de 30 anos
corrompem os políticos em quase todos os níveis federativos, como declarou o
patriarca da Odebrecht.
O
poder é tratado, por diversos pensadores, como violência. Com a democracia
rompida e as instituições desmanteladas, abriu-se um vácuo de poder. Nesse
quadro de desmanche da democracia e das suas instituições, existe hoje no
Brasil uma luta pela ocupação do poder, cuja conquista tem sido disputada
explicitamente por: 1) operadores do mercado financeiro (representados pelo bancário
ministro da Fazenda, nas propostas para retirada de direitos dos trabalhadores,
mediante as reformas trabalhistas e da previdência, a redução e o congelamento
das verbas orçamentárias para saúde e educação, além do aumento de tributos);
2) agentes do narcotráfico (em decorrência da migração do território
colombiano, visando a ampliação de suas atividades pelo imenso território
brasileiro), como visto nas dezenas de decapitações ocorridas nos presídios no
início de 2017 e no crescente fortalecimento de suas posições nos guetos e nas
favelas das grandes cidades, onde residem expressivos quantitativos
populacionais, que são forçadamente submetidos às regras estabelecidas no local
pelos traficantes); e 3) empresas dos grandes meios de comunicação social.
As
grandes empresas de comunicação social têm exercido uma forte pressão sobre os
políticos e partidos, criando o falso mito do “protagonismo judicial”, apresentado
como salvador da pátria.
Madison,
Hamilton e Jay, em “O Federalista” (em que se analisa a fundação dos Estados
Unidos da América), afirmam que o Poder Judiciário é o mais fraco dos poderes,
conclusão ditada pela lógica, pois decorre do fato de que juízes não desfrutam
diretamente da força do povo (como o parlamento) e nem das armas (como o Poder
Executivo).
As
empresas de comunicação têm conhecimento desta fragilidade e a utilizam para
manipular determinadas figuras da burocracia judicial, fazendo-as crer que podem
ocupar o vácuo de poder, na disputa com seus concorrentes, neste momento
trágico para o Brasil.
Com
efeito, por não “saber sentir”, como alerta Maquiavel, a burocracia repressiva
da polícia, do Ministério Público e do Judiciário facilitam o caminho para a
desordem política.
Assim,
o juiz primário, presente numa festa como mero convidado, por não saber
perceber os sinais, também não vê que, ao incentivar os ataques ao projeto de
lei relativo aos crimes de abusos de autoridade, debatido no Senado Federal,
possibilita o caminho para o esvaziamento definitivo do Parlamento, esquecendo-se,
porém, de que no dia 18 de abril de 2017 foi anunciado que um general do
Exército brasileiro assumirá a Secretaria Nacional de Segurança Pública do
Ministério da Justiça.
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