Presidente Vampiro da Escola de Samba Paraíso da Tuiuti |
No final de outubro de 2017, o ministro da Justiça, um dos responsáveis pelo acompanhamento da Garantia da Lei e da Ordem (GLO), em vigor no Estado do Rio de Janeiro desde julho de 2017, afirmou que o comando da Polícia Militar no Estado era “sócio do crime organizado”, o que gerou graves protestos das autoridades locais e pedido de desmentido por parte do ministro, que nada fez nem tampouco foi demitido.
Em
12 de janeiro de 2018 houve uma grande reunião no Palácio Laranjeiras, com a
presença de todo o aparato de segurança e inteligência dos Governos Federal,
Estadual e da Prefeitura do Rio de Janeiro, para fazer um balanço das ações
das Forças Armadas no combate ao crime no Rio de Janeiro.
Nessa
reunião, as autoridades do governo federal, que já estavam atuando no Estado,
pressionaram o governador do Estado do Rio de Janeiro para assinar um protocolo
de intenções, no qual a União foi representada pelos Ministros da Defesa,
Justiça, Gabinete de Segurança Institucional e Desenvolvimento Social, e o
Estado do Rio de Janeiro foi representado pelo Governador Pezão; na verdade, no
referido protocolo objetivava-se que o Estado deveria entregar o comando da
segurança pública (polícias militar e civil) à União.
Nada
se comentou até agora sobre esses dois episódios, que não são isolados e estão
ligados diretamente à oficialização da esdrúxula intervenção “militar” na
segurança pública do Estado.
De
fato, o governador vem sendo pressionado a entregar a segurança do Estado nas
mãos do Exército como forma de atender a interesses políticos locais, que
estão perdendo espaço para parte da esquerda e para o fascismo, nas comunidades
mais pobres (antes cercadas pelas Unidades de Polícia Pacificadora - UPP).
Assim,
criou-se o factoíde (muito comum durante a gestão de Cesar Maia na Prefeitura
do Rio de Janeiro) da “intervenção”, para jogar para debaixo do tapete os
graves problemas provocados pelo desgoverno federal, que cortou os
investimentos nas áreas sociais e de segurança, o que só fez ampliar a
violência urbana.
Um desgoverno
sem autoridade moral afirma que irá moralizar a segurança pública do Rio de
Janeiro, a exemplo do que falsamente já fora prometido por um dos seus
principais ministros, na campanha para governador do Rio de Janeiro em 1986,
quando afirmou que “iria acabar com a violência em seis meses”, o que nunca se
realizou; o vencedor do pleito exacerbou do requinte de maldade e pôs fim,
durante a sua gestão de 1987 a 1990, ao maior projeto educacional realizado na historia
do Brasil para crianças e jovens, que foi o CIEP (Centro Integrado de Educação
Pública), lançado por Leonel Brizola e Darcy Ribeiro.
Em
troca de uma falsa segurança (falsa mesmo, porque desacompanhada de
investimentos na área social e sem a possiblidade real de criação de postos de
trabalho), o povo do Rio de Janeiro que ora aplaude a “intervenção militar”,
tão pedida anteriormente, será enganado como foi na campanha eleitoral de 1986
para o governo do Estado, pois a segurança não virá, uma vez que as Forças
Armadas não têm experiência para esta atividade e sairão mais desgastadas, a
exemplo de sua ação entre 1964-1985, que favoreceu aos civis que se utilizaram
das forças para seus interesses políticos e particulares. Os militares ficaram como
algozes do regime e até hoje muitos nomes temem a ameaça de ter que responder perante
algum tribunal pelas horríveis transgressões a direitos humanos.
O
mais grave é que as Forças Armadas “não percebem” que estão sendo manipuladas por
um governo ilegítimo e acusado de corrupção, muitas vezes demonstrada.
Diversas
áreas da região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro estão, desde julho de
2017, sob a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), com os militares auxiliando na segurança
pública do Estado, mas sem que tenham produzido nenhum resultado efetivo até
hoje; ao contrário, as atuações anteriores nas favelas da Maré e do Alemão não
apresentaram qualquer transformação da dura realidade vivida nestas comunidades.
Por
isso, faz todo sentido o ministro da Justiça revelar o óbvio, pois sua
finalidade é aprofundar a intervenção branca pré-existente (mas que já se
demonstrou ineficaz) por parte das forças de segurança da União que atuam no
Rio de Janeiro.
A
exploração exaustiva pela mídia de eventos ocorridos no período do carnaval de
2018 e a retratação da violência como um
fenômeno exclusivo do Rio de Janeiro foram os instrumentos para permitir o desdobramento
e prosseguimento da destruição do estado de direito, que todos sabemos como
começou, mas que ninguém, nem os golpistas, tem como saber aonde vai parar.
Como
quase tudo que faz o desgoverno, que tem sua origem num golpe jurídico
parlamentar, o ato de intervenção federal-militar no Estado do Rio de Janeiro
representa uma violência à ordem jurídica constitucional, na medida em que não
foi devidamente demonstrada a incapacidade das forças policiais do Rio de
Janeiro para garantir a segurança pública.
Sem
dúvida, desde final de outubro de 2017, o ministro da Justiça vem construindo a
hipótese de descontrole dos comandados das polícias militar e civil do Estado
do Rio de Janeiro, como fossem as únicas forças de segurança sequestradas pelo
poder sombrio do narcotráfico no país.
A
intervenção na área de segurança não tem respaldo na ordem constitucional, na
medida em que o ato de limitação ao poder de autogestão da unidade da federação
deve se dar como um todo.
Se o
governo do Rio de Janeiro é incapaz de resolver os problemas de segurança
pública, igualmente não tem capacidade para as demais funções, pois seus atos
põem em risco o comprometimento da ordem pública, como um todo.
Num
estado de exceção, como se implantou depois de maio de 2016 no Brasil, em que a
Constituição Federal foi rasgada, qualquer atrocidade jurídica é possível, pela
mais completa ausência de estado de direito, que possa servir de guia para a
sociedade.
Por
isso, restringir verbas orçamentárias de
educação e saúde foi considerada normal
para o Supremo Tribunal Federal, que nada fez e nada fará; assim, não é estranho intervir na capacidade de
autogoverno de qualquer unidade federativa, como forma de satisfazer interesses
políticos de alguns e impor o medo e o terror para demonstração de força.
A Escola
de Samba Paraíso do Tuiuti já sentiu os efeitos da intimidação da intervenção federal no Rio de Janeiro, ao ter cerceada a liberdade de expressar a
sua arte e crítica contra o vampiro, que suga todo nosso sangue.
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