Por Jorge
Folena[1]
A
união formada naquela oportunidade englobava o que havia de pior em
representação política no país, entre políticos inescrupulosos, corruptos (como
o condenado Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados, que cumpre
prisão por seus graves delitos), pastores pentecostais, militares do alto
comando e até juízes de Cortes Superiores, como revelado pelos diálogos
liberados pelo Jornal Folha de São Paulo, em 2017, e, mais recentemente,
confessado pelos conspiradores Temer e Cunha, em seus respectivos livros de
memória.
Esse
golpe foi mortal para o povo brasileiro, uma vez que os sucessores de Dilma
Rousseff impuseram ao país um projeto neoliberal duríssimo, com severos cortes em
programas sociais, congelamento do orçamento da saúde, da educação e da ciência
e tecnologia, arrocho salarial e as reformas trabalhista e previdenciária, que até
agora não foram capazes de fazer o Brasil crescer nem se desenvolver de forma
soberana e de modo a contribuir para o bem estar da sua população.
Neste
processo, que desde maio de 2016 somente nos conduziu para o atraso e nos jogou
na crise política e econômica que enfrentamos hoje, o mais grave é que foi a
classe dominante brasileira que incentivou a onda moralista de combate à
corrupção, promovida pela operação Lava Jato, liderada por Sérgio Moro, cujo
único objetivo era afastar Luís Inácio Lula da Silva e o Partido dos
Trabalhadores da luta política.
Com
tal objetivo em mente, imaginaram que seus apoiadores de direita e os supostos
liberais de origem conservadora, forjados nas fileiras do PSDB, DEM e MDB, pessoas
que jamais foram e nunca serão de centro, poderiam vencer a eleição presidencial
de 2018.
Entretanto,
os efeitos da Lava jato recaíram mais duramente sobre eles, de tal modo que a
representação de seus partidos diminuiu a olhos vistos nas eleições de 2018 e,
no segundo turno da disputa presidencial, não conseguiram emplacar nenhum
candidato.
Diante
da derrota, a classe dominante, mais uma vez, não teve nenhum apreço à
democracia nem aos supostos valores liberais que diz defender e jogou às favas,
por completo, qualquer sentimento de escrúpulo, que ela jamais teve. Assim, optaram
por apoiar um sujeito que sempre revelou sua incapacidade para qualquer coisa,
um boquirroto defensor da imoralidade, da tortura, da ditadura e de grupos
paramilitares armados, que chamam equivocadamente de milícias.
A
eleição de Bolsonaro representou a vitória do atraso sob variados aspectos:
impôs um negacionismo que contraria o avanço da ciência, promoveu um retrocesso
nas relações internacionais e causou a perda de credibilidade do país. Por tudo
o que representa, tornou-se uma ameaça declarada e permanente à democracia e ao
pouco que restou da Constituição de 1988.
Bolsonaro
é um fracasso completo desde o primeiro dia de seu governo; da mesma forma, seus
filhos enrolados em práticas comprometedoras e seus apoiadores terraplanistas e
negacionistas; o mesmo se pode dizer dos militares que o apoiaram
incondicionalmente e, por isso foram nomeados para importantes cargos públicos,
como se vê nas pastas da Casa Civil, na Secretaria de Governo, na Defesa, nas
Minas e Energias, na Infraestrutura, na Saúde e na infinidade de postos
ocupados no governo, seja por integrantes da ativa como da reserva, revelando a
total incapacidade deles para gerir o país.
Nestes
mais de dois anos de governo não conseguiram apresentar uma única proposta
concreta para melhorar as condições de vida das pessoas nem para propiciar o
desenvolvimento nacional; ao contrário, ele e seu grupo representam um perigo
permanente à sociedade, aos negócios e à segurança jurídica. São incontáveis os
casos de violações constitucionais neste período, que deram origem à uma
infinidade de pedidos de impeachment, todos devidamente fundamentados e
justificáveis tecnicamente.
Contudo,
foi a gestão da crise da COVID-19 que desnudou totalmente a psique desse homem,
que nunca escondeu sua opção pela indiferença, pela tortura, pela morte e pelo
genocídio, que somente preza e reverencia a ditadura e os ditadores; que, em
suma, defende a destruição de tudo aquilo que a Constituição de 1988 representa
para o povo e propõe a retomada de todas as práticas nocivas que a Constituição
Cidadã tornou proibidas no Brasil, depois de vencidos vinte e um anos de uma
ditadura sangrenta.
Tragédias
como a segunda onda da COVID-19, em Manaus, quando pessoas morreram asfixiadas
por falta de oxigênio, que o governo sabia de antemão que iria faltar,
ultrapassaram qualquer limite de tolerância que ainda pudesse haver com este
ocupante da Presidência da República, que debocha da vida alheia e, como uma
criança malcriada, transfere as suas responsabilidades para os outros.
A
incompetência generalizada deste desgoverno está sufocando o país inteiro, afetando
os mais pobres, os integrantes da classe média e até mesmo os muito ricos. Ou
paramos este homem imediatamente, ou ele destruirá o país.
Já
está comprovado que ele conspirou contra a vida durante a COVID-19,
possibilitando a morte massiva de pessoas, inclusive por não ter comprado
intencionalmente vacinas para imunizar a população. Da mesma forma, milhares de
empresas faliram, não por culpa da pandemia, mas pela desastrosa inação imposta
por ele e seu desvairado ministro das finanças, que nada entende de economia e
se recusa a enxergar o que se passa no mundo, nos diversos países em que o orçamento
público está sendo utilizado para salvar as vidas e os negócios dos habitantes,
a fim de possibilitar o restabelecimento das atividades econômicas, mesmo que
de forma mínima, até a superação do vírus letal.
Por
tudo isto, agora é a hora de conclamarmos a todos, inclusive os que
contribuíram para nos arrastar a este processo destrutivo, alertando-os para que
tomem consciência do quadro de irresponsabilidade política, econômica, social e
jurídica em que o país está mergulhado; impondo-se assim o imediato afastamento
e impedimento do incapacitado e totalmente irresponsável governante, que está à
frente da cadeira presidencial.
Todas
as condições para o impeachment estão postas: violação sucessiva da
Constituição; permanente instabilidade institucional, seja no âmbito interno
como internacional; manifestações de revolta da população com a inépcia na tomada
de decisões, com movimentos populares que começam a ganhar força nas ruas,
mesmo durante a grave pandemia, com pesquisas de opinião demostrando o
derretimento da aprovação do governo; perda de competitividade econômica e
constante ameaça à democracia.
Desta
forma, está mais do que na hora de abrir o processo de impeachment na Câmara
dos Deputados, por solicitação e união de todas as forças políticas do país,
que não aguentam mais tanta desordem, violações à democracia e mortes de
brasileiros.
[1] Advogado e cientista político.
Diretor do Instituto dos Advogados Brasileiros e membro da Coordenação do
Movimento SOS Brasil Soberano do Senge/RJ.
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