Por
Jorge Folena
Em
decorrência disso, deverá ser implementada imediatamente uma política de
governo que promova o diálogo, a fim de estabelecer o equilíbrio das forças
políticas e sociais no país, totalmente desmantelado pelo atual governo, que,
em sua visão doentia, estabeleceu como seus lemas os valores da última ditadura
de 1964-1985, incentivando a violência e a repressão policial militar sem
limites e desrespeitando até mesmo a decisão do Supremo Tribunal Federal na
ação de descumprimento fundamental 635 (ADPF das favelas).
Infelizmente,
é importante registrar que, apenas entre maio de 2021 e julho de 2022, num
raio de menos de sete quilômetros que abrange as comunidades do Jacarezinho,
Vila Cruzeiro e Morro do Alemão, na Cidade do Rio de Janeiro, ocorreram três
chacinas com mais de 60 negros ou pardos mortos, em decorrência da política de
ódio implantada a partir de 1º
de janeiro de 2019 pelo atual presidente da República.
A
polícia, a serviço de um Estado controlado por uma classe dominante cruel, é
incentivada a promover a matança do maior número de pessoas, e, entre estas,
até mesmo de crianças, idosos e mulheres, o que não se assiste com regularidade
nem em uma guerra.
Ocorre
que a guerra que se trava aqui é contra as vítimas da pobreza periférica e
subalterna, integrantes de grupos sociais inteiramente desassistidos de
quaisquer direitos fundamentais e essenciais à vida, assim mantidos ao longo de
muitas e muitas décadas.
Essa
é origem da guerra que todos os dias ceifa as vidas, principalmente, de cidadãos
jovens, pretos e pobres, na sua grande maioria, mas também vitima policiais,
paradoxalmente oriundos dessas mesmas camadas historicamente subjugadas,
transformados em braços armados da classe dominante contra seus iguais, não
para combater a criminalidade, mas sim para impor o conformismo diante das
desigualdades e estabelecer controle social.
Há
quem afirme, de modo indevido e com desonestidade intelectual, que os
brasileiros são preguiçosos, como herança dos povos indígenas, e malandros, como
herança dos negros escravizados. Isso é repetido sistematicamente em livros,
jornais e meios de comunicação social, sendo esta mentira assimilada por muitos
indivíduos pobres, que apenas reproduzem, sem questionar, o que lhes dizem,
sendo assim mantidos na ignorância.
A
repetição constante dessas falsidades culturais tem o objetivo de marginalizar
a população, para mantê-la em uma posição de inferioridade e subalternidade,
ainda colonial em pleno século XXI, de modo a justificar toda a violência
estatal que recai sobre ela, a exemplo do que ocorreu nos massacres e chacinas
de Vigário Geral, Acari, Parada de Lucas, Candelária, Eldorado dos Carajás,
Paraisópolis, Jacarezinho, Vila Cruzeiro, Morro do Alemão etc., todos
perpetrados por forças militares contra o seu próprio povo.
A
classe dominante promove, desde sempre, um constante apagamento da memória
nacional, ao mesmo tempo em que procura exaltar como heróis homens que
violentaram e mataram nossa população no passado; os mesmos que, nos dias de
hoje, promovem o extermínio da juventude das periferias e comunidades
faveladas, dos camponeses, quilombolas e grupos indígenas que lutam pela
manutenção da posse de suas terras ancestrais e preservação da sua cultura.
Este
proposital e constante apagamento da memória permite que pessoas nefastas, como
o ocupante da presidência, naturalizem o racismo e
promovam o ódio e a violação à Constituição, que estabelece que a prática de
racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
reclusão.
Nesse cenário, o novo governo que
virá - assim esperamos, para a preservação do Brasil como estado nação - entre
os muitos desafios a enfrentar, deverá implantar uma política nacional de
justiça restaurativa, que permita o diálogo permanente, baseado no objetivo
fundamental da República Federativa do Brasil de se construir uma sociedade
livre, justa e solidária e de promover o bem de todos, sem quaisquer
preconceitos e discriminações.
Esse processo de justiça
restaurativa constitui o caminho para promover a reeducação da sociedade como
um todo, podendo ser implementado por meio de ampla política de comunicação
social e devendo contar, principalmente, com a participação de todas as forças
repressivas, para incentivar a formação de uma nova mentalidade e estabelecer o
necessário entendimento de que a população - formadora do Estado e titular
final de todas as suas riquezas - é para ser assistida e protegida, e não
assassinada, como tem sido feito ao longo da História do país.
Entre as muitas ações a serem
postas em prática nessa caminhada, é urgente que comecemos a trabalhar a
construção de uma política permanente de preservação da memória, para que o
efetivo conhecimento das nossas muitas mazelas, tanto do passado quanto do
presente, nos traga verdadeira compreensão, a fim de que nunca mais se repitam
no Brasil.
Comentários
Postar um comentário