Por Jorge Folena –
Na semana passada o Brasil perdeu um brasileiro que travou muitas batalhas em defesa do país. Refiro-me a Hélio Fernandes, falecido aos 100 anos de idade, decano dos jornalistas e proprietário da antiga Tribuna da Imprensa, publicação tão perseguida pela linha dura da ditadura de 1964-1985.
A Tribuna da Imprensa sofreu atentados pelo regime militar, reconhecidos judicialmente, porém, até onde tenho conhecimento, não foram devidamente reparados pelo Estado brasileiro.
A destruição do jornal foi a forma de vingança que os algozes da ditadura empreenderam contra um único homem, que foi perseguido, preso e degredado (como ele gostava de lembrar), e tudo isto porque sempre defendeu bravamente o país e a soberania nacional.
Soberania essa que foi enfraquecida a partir dos governos de Fernando Henrique Cardoso, que, em 1995, impôs o fim do monopólio do petróleo da Petrobras, que era até então, a nossa grande empresa, orgulho dos brasileiros que lutaram na campanha “O petróleo é nosso”, e que anos depois viria a descobrir a maior reserva de petróleo do mundo, na camada do pré-sal. Em retrospecto, ouso dizer que parece até coisa de espionagem!
Hélio Fernandes afirmava que FHC tinha feito o Brasil retroceder 80 anos em apenas 8 anos, em razão das tantas violações praticadas no seu governo contra a soberania nacional, como a entrega ao capital especulativo da Companhia Vale do Rio Doce, ex-estatal brasileira e maior mineradora do mundo, por míseros 3 bilhões de reais, quando a empresa valia mais de 300 bilhões de dólares, segundo avalições sérias feitas à época.
Foi também no governo de FHC que se pôs fim à empresa de navegação Lloyd Brasileiro, sendo decretado o fim da navegação de cabotagem com navios de bandeira nacional, outra agressão desmedida à soberania nacional, na medida em que armadores estrangeiros ficaram autorizados a livremente circular pela costa brasileira.
Porém, os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, ambos apoiado pelos militares, conseguiram superar FHC em matéria de violações à soberania nacional, a começar pela entrega da Base de Alcântara, no Maranhão, para os norte-americanos.
Violações que se estendem, principalmente, pelo massacre imposto diariamente ao povo trabalhador brasileiro, mediante os sistemáticos cortes de direitos, que somente têm favorecido ao mercado financeiro, que hoje, mesmo na condição de acionista minoritário, considera-se dono da Petrobras e, somente nos três primeiros meses do ano, já impôs mais de seis aumentos nos preços dos combustíveis e do gás de cozinha, o que deixa esses produtos essenciais bem distante do alcance da empobrecida classe trabalhadora.
Hélio Fernandes foi um grande defensor desta mesma Petrobras, e logo percebeu que, depois da manobra realizada por Fernando Henrique Cardoso, de colocar as ações da empresa na Bolsa de Valores de Nova Iorque, que já não valeria mais a pena lutar pela empresa que tinha sido o nosso maior orgulho, pois estava dominada por interesses corporativos, de empreiteiros gananciosos e pelo mercado financeiro, e tudo isso faz parte das manipulações que nos trouxeram ao difícil momento que enfrentamos hoje.
Em razão dessas discussões, e também por nossa identificação na luta em defesa da soberania nacional, durante o governo do ex-presidente Lula, que anunciou a descoberta da camada de pré-sal, tive a felicidade de, ao lado de Hélio Fernandes, defender a criação de uma nova empresa estatal de petróleo cem por cento brasileira, para que o país tivesse o controle exclusivo sobre o petróleo da camada de pré-sal, que FHC fez o país perder quando decretou o fim do monopólio da Petrobras.
Tudo isto encontra-se no livro “Conversas com Hélio Fernandes” (ARC Editor, 2014), no qual o saudoso mestre e o amigo em comum Bernardo Cabral possibilitaram-me levar a público conversas que mantínhamos, por meio de cartas trocadas e publicadas na antiga Tribuna da Imprensa.
O jornalista Hélio Fernandes deixa saudades e, com certeza, fará muita falta para a compreensão do país, pois suas análises políticas corajosas e certeiras representavam e até mesmo confundiam-se com o registro da História contemporânea do Brasil, em sua defesa intransigente da soberania nacional, quase sempre deixada de lado pelos interesses de uma classe dominante egoísta e anti-nação.
Jornalista, obrigado por sua luta corajosa em defesa do nosso país e seu povo!
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