Maria
Yeda Linhares e Francisco Carlos Teixeira da Silva, em sua História da
Agricultura do Brasil, afirmam que o grande feito dos governadores, na
proclamação da Constituição Republicana de 1891, foi terem conquistado a autonomia
federativa, que lhes propiciou ter em suas mãos o poder de polícia e o direito
de demarcação de terras locais no Brasil.
Assim,
os governadores das antigas províncias imperiais conseguiram derrubar os militares
de origem monarquista, que pretendiam implantar uma república unitária no
Brasil, nos mesmos moldes que prevaleciam no Império e que enfraquecia o poder
das oligarquias caudilhistas.
A
Constituição da República de 1891 tentou copiar no Brasil o modelo de federação
existente nos Estados Unidos da América do Norte. Porém, o modelo de federação
brasileiro jamais prosperou, na medida em que os estados-membros sempre foram
totalmente dependentes dos repasses orçamentários do governo federal.
Contudo,
os governadores dispunham do poder de polícia, que utilizaram para reprimir os
movimentos de contestação da política local. Por conta disso, os municípios não
dispunham de autonomia federativa, que somente veio a ser estabelecida na
Constituição de 1988.
A Constituição Federal em vigor consagrou entre
os órgãos de segurança as guardas municipais (artigo 144, parágrafo 8.º),
que, nos termos da Lei 13.022/14, são instituições fardadas e armadas.
Ou
seja, nos mais de cinco mil municípios brasileiros temos, hoje, uma força de
segurança fardada e armada, sob o controle de prefeitos, que, dessa forma
dispõem de um poder que os governadores do início da República se recusaram a
conceder politicamente, numa tentativa de enfraquecer o poder político e de
repressão dos antigos coronéis.
Por
isso, a eleição municipal de 2016 tem uma importância estratégica maior do que
se possa imaginar, uma vez que a vitória das forças reacionárias nas
prefeituras poderá representar o controle de um gigantesco contingente de
segurança, fardado e armado, que, unido às forças policiais dos estados, são muito
superiores às Forças Armadas.
Vale
ressaltar que as polícias militares e civis e os corpos de bombeiros militares
dos vinte e sete estados da federação e do Distrito Federal, bem como as guardas
municipais dos mais de cinco mil e quinhentos e setenta municípios brasileiros,
constituem uma força de segurança em constante atuação, com experiência nos
comportamentos da vida urbana e nos modos de reprimir a população local, características que
não estão presentes nas Forças Armadas.
As
Forças Armadas, por serem voltadas para a guerra externa, não são forças
treinadas para a repressão interna ou a luta de guerrilha nas cidades, onde
vivem mais de 80% da população brasileira.
Assim,
podemos supor que, nas eleições municipais de 2016, na hipótese de uma vitória
majoritária dos apoiadores do golpe político institucional contra Dilma Rousseff,
isto poderá representar uma derrota também para as Forças Armadas, que poderão
ser anuladas politicamente diante do controle quantitativo das força de
segurança repressiva nas mãos das oligarquias locais, aliadas ao ilegítimo
governo federal.
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