Em
todo mundo (inclusive no Brasil, neste momento) estão sendo exigidos mais
aumentos de tributos (particularmente sobre o consumo), redução do pagamento de
pensões aos idosos, ampliação da idade para a concessão de aposentadorias, redução
de gastos sociais, congelamento de salários, mais privatizações, concessões
etc.
É
a imposição das forças hegemônicas, lideradas pelos banqueiros, contra todas as
formas de organização do trabalho (aí incluídos a legião de miseráveis, os
desempregados, os que lutam para se manter em seus empregos formais e aqueles submetidos
a relações precarizadas de trabalho).
Tal
imposição, hoje, alcança até mesmo o que restou de segmentos empresariais, como
comerciantes, industriais e prestadores de serviços, que resistem para manter suas
atividades econômicas fora do controle direto ou indireto dos bancos (que
manipulam o setor produtivo com a cobrança de taxas exorbitantes de juros e
custosos serviços bancários).
No
atual contexto histórico, o conceito de luta de classes está mais evidente do
que nunca, pois a exploração do trabalho está mais contundente do que nos
séculos XIX e XX, uma vez que todos os indicadores econômicos e sociais revelam
uma concentração de renda tão brutal que possibilita que “o passado devore o
presente”. (Thomas Piketty)
Num
cenário em que o número dos mais ricos é
cada vez menor, ao passo que aumenta a concentração de pobres e miseráveis, é necessário
retomar a reflexão, proposta por Rousseau no século XVIII, sobre as causas e
origens das desigualdades sociais, que persistem em pleno século XXI e
consistem “nos diferentes privilégios desfrutados por alguns em prejuízo dos
demais”.
Do
alto de sua superioridade e privilégios, os ricos exploram todos os recursos da
terra numa cobiça quase desmedida. A fim de manter este processo exploratório, é
preciso desviar o olhar da sociedade. Para isso, implantam um estado de medo e
tensão que provoca a impressão de que a desordem social é causada pelos pobres
e miseráveis, e não por eles e seu modo de vida esbanjador.
Nesse
quadro de violência direcionada contra os pobres, a classe hegemônica e rica
propõe, por todos os cantos, a ampliação da construção de penitenciárias (preferencialmente
privatizadas e exploradas para dar lucro aos seus concessionários). A
sociedade, amedrontada, não consegue perceber que o aumento das penas de
restrição de liberdade e a diminuição da idade penal tem como finalidade manter
abastecido o lucrativo sistema carcerário, em que as pessoas provavelmente
ficarão mais tempo detidas.
(Amanhã continua ...)
Bibliografia:
AGAMBEN, G. Estado de excepção. Lisboa: Edições 70, 2010.
AGOSTINHO,
S. Sobre a potencialidade da alma.
Petrópolis, Vozes, 1997.
LOSURDO,
D. A luta de classes: uma história
política e filosófica. São Paulo, Boitempo, 2015.
PIKETTY, T. O capital do século XXI. Rio
de Janeiro: Intrínseca, 2014.
ROUSSEAU, J.J. O contrato social. São Paulo: Editora
Cultrix, 1995.
WOOD, E.M. Democracia contra capitalismo: a renovação do materialismos histórico.
São Paulo: Boitempo, 2011.
ZIZEK, S. Violência. Seis notas à margem. Lisboa: Relógio D’Água, 2009.
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