Além
da nomeação de Joaquim Levy, a presidenta
Dilma, talvez pela carência de uma maior
virtude política, cometeu outro erro, no início de fevereiro de 2015, quando
tentou medir força com um político sem expressão e sem maiores credenciais, mas
que veio a receber total apoio da mídia, que lhe conferiu projeção nacional no
papel de algoz do governo. Porém, com a mesma rapidez com que cresceu sua
notoriedade, ele hoje se vê enredado com a divulgação de contas bancárias no
exterior, em seu nome e no de seus familiares.
Ora,
a Presidência da República não poderia jamais revelar sua intenção ou
preferência na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, que deveria
ser um ato exclusivo, interna corporis,
dos deputados. Ao revelar sua opção, a presidenta se colocou em posição de
fragilidade e tornou-se previsível; erro que jamais pode ser cometido
por um governante.
Assim, a presidenta Dilma deu margem para que,
ao longo de todo o ano de 2015, fosse ainda mais julgada pelos olhos da
população e teve contra si e seu partido a lente ampliada das câmeras dos
canais de televisão, o alto-falante das rádios e as manchetes em letras
garrafais dos jornais e revistas. Desta forma, abriu-se espaço para toda uma ofensiva
reacionária instalada no país, que ficou paralisado sob a expectativa de que
seu governo não chegaria ao final do ano passado.
Porém,
mesmo com todo os erros, o governo chegou ao final de 2015 e a grande notícia
foi a saída do Ministro Levy da pasta da Fazenda, o que trouxe, já na última
semana do ano, a notícia de que o
salário mínimo passaria para R$880,00 (ainda pouco, mas que representa uma elevação da renda e,
com certeza, do consumo, que influirá no aumento da produção e da arrecadação
para a União, Estados e Municípios).
Com
todo respeito, a presidenta Dilma (que conta com minha torcida para fazer um
governo melhor para o Brasil) necessita urgentemente repassar a leitura de “O Príncipe”, de Maquiavel, para entender que
“os meios que empregar serão sempre julgados honrosos e louvados por todos,
porque o vulgo é levado pelas aparências e pelos resultados dos fatos
consumados”.
Desta
forma, não pode ter medo dos poderosos; quando muito, há que respeitá-los, num
gesto de equilíbrio necessário aos governantes de qualquer origem ideológica. Mas
é preponderante optar pelo caminho do povo, o que não vimos em 2015.
Entrincheirar-se
no Palácio do Planalto não trará a salvação ao governo, pois os grandes
governantes devem estar nas ruas, junto à população; ouvindo, dialogando,
falando a linguagem de todos: do povo, dos estudantes, dos intelectuais, dos
empresários.
Acredito
que somente assim será possível recuperar a imagem do governo – mesmo com o
desmedido ataque promovido pela mídia reacionária, que já cansou o ouvido da
população com tanta “crise”, no país em que “vendas de champagne batem recorde
em 2015”, como noticiou o alarmista O Globo, no último dia do ano passado.
Presidente
Dilma, quanto aos golpistas (dentro do governo de coalização e fora dele), Nicolau
Maquiavel ensina que “um dos remédios
mais eficientes que tem um príncipe (governante) contra as conspirações é não
se tornar odiado pela população, pois quem conspira pensa sempre que está satisfazendo
os desejos do povo provocando a morte do príncipe. (...) as conspirações têm
sido muitas, mas poucas delas tiveram êxito, porque aquele que conspira não
pode estar só, nem pode ter como comparsa senão os que estiverem desgostosos.
(...) a um príncipe (governante) pouco devem importar as conspirações se ele
for querido pelo povo, porém se é seu inimigo e o odeiam, deve temer a tudo e a
todos” (Capítulo XIX, do “Príncipe”).
Desta
forma, presidenta, seu gesto de elevação do salário mínimo já representou um bom sinal de mudança
na política, o que os conspiradores já temem, pois lutam contra os programas
sociais, a elevação dos salários, as políticas educacionais que possibilitam o
ingresso de todos nas universidades, o desenvolvimento da economia, a integração
e o reforço da soberania.
É
com isto que a senhora deve “armar o povo”, pois – como diz Maquiavel -
“tornar-se-ão fiéis” ao seu governo, que poderá seguir o caminho da paz e do
equilíbrio, afastando o medo e retomando a caminhada rumo à construção de um
país mais justo e menos desigual, como reconhecido nos últimos anos por tantas
instituições internacionais.
Pois é, caro Jorge. Parabéns pelo texto. Associo ao seu Maquiavel um adágio atribuído ao escritor Victor Hugo: "A suprema felicidade da vida é a convicção de ser amado por aquilo que você é, ou melhor, apesar daquilo que você é". Em uma eleição polarizada, onde cerca de metade das pessoas elegeram Dilma, ainda que sem muita convicção, e a outra metade tem ojeriza a ela, ela deveria se preocupar em fazer políticas que fossem admiradas por aqueles que a elegeram, e não conquistar o apoio daqueles que jamais a apoiarão, impedidos que estão por questões ideológicas.
ResponderExcluirApesar da mídia brasileira e seu favorecimento a determinados grupos políticos, não se pode perder de vista a péssima condução do governo, inclusive do ponto de vista da comunicação. Nos quase seis meses em que esteve no cargo, o ministro da educação Renato Janine Ribeiro deu uma aula - não aproveitada - de comunicação com a mídia e publicidade transparente de seus atos. Em mais uma medida equivocada, o governo, sem ter aprendido com sua passagem, o destitui por conta de barganhas políticas. Fica difícil manter a caminhada cavando paulatinamente novos buracos.
Grande abraço,
RL