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GOVERNO DILMA ROUSSEFF II E MAQUIAVEL


Em 1.º de janeiro de 2015, Dilma Rousseff  e Michel Temer tomaram posse para o segundo mandato à frente do governo do Brasil.
Após uma disputadíssima eleição, na qual as forças opositoras contaram com o apoio irrestrito das reacionárias empresas de comunicação social, a chapa formada pelo PT e PMDB saiu vencedora no segundo turno de  votação.
Entretanto, ao invés de manter o ministério anterior, formado com os partidos aliados e consagrado nas urnas em outubro de 2014, a presidenta resolveu alterar várias pastas ministeriais, a começar pela Fazenda e Planejamento.
Acredito que, influenciada pela forte pressão ditada pelos meios de comunicação (que sempre trabalharam contra os governos do PT e suas coligações, desde a primeira vitória de Lula, no final de 2002), a presidenta Dilma substituiu Guido Mantega por Joaquim Levy, oriundo do Banco Bradesco,  no Ministério da Fazenda.
Assim, muito provavelmente atendendo ao apelo dos banqueiros, o governo se direcionou contra o povo e os funcionários públicos (que representam importante ponto de equilíbrio político nas repúblicas contemporâneas).
Nicolau Maquiavel, em “O Príncipe”, manifesta que a virtude do governante está em saber conciliar os interesses do povo, dos poderosos e da burocracia. Porém, a atuação de Joaquim Levy, antes mesmo da posse do segundo governo, foi no sentido de “cortar” gastos sociais, como revisões de aposentadorias, pensões e salários, um ato nada original praticado por um bancário liberal, que defende os interesses do seu senhor.
O maior objetivo do novo ministro não era gerar o desenvolvimento (que é impulsionado pela utilização da fórmula trabalho e distribuição de renda), mas incentivar o aprisionamento dos investimentos nos cofres dos bancos, valendo-se da elevação da taxa de juros e da  acumulação de receitas para a amortização da dívida pública, controlada pelos bancos.
Em nenhum momento se ouviu qualquer voz no governo sobre a possibilidade de auditar a referida dívida pública; igualmente calou-se o empresariado, que sempre reclama da elevada carga tributária incidente sobre os produtos e serviços.
Ocorre que, se o governo necessita fazer reserva “de caixa” (reserva orçamentária) para pagamento da dívida e assim alcançar a nota de “bom pagador” perante o mercado, não há como fazer a reforma tributária reclamada pela indústria e comércio, por ser cada vez maior a necessidade de se arrecadar para gerar o equivocado superávit primário.
Todo o desenvolvimento econômico e, principalmente social, alcançado nos últimos anos, foi paralisado ao longo do ano de 2015 porque a presidenta Dilma aceitou passivamente  o projeto de “salvação” do país,  que estaria “em crise”, conforme lugar comum apregoado pelos defensores do modelo neoliberal, representado pelos banqueiros, que atuam contra os interesses do povo – trabalhadores, micro, pequenos e médios empresários e até mesmo grandes comerciantes e industriais, todos igualmente explorados pelo sistema financeiro hegemônico.
 A utilização dessa política econômica reacionária pavimentou os caminhos para a conspiração e facilitou as tentativas de golpes contra a presidenta. A adoção de medidas impopulares logo nos primeiros atos da nova gestão jogou o governo do Partido dos Trabalhadores contra os próprios trabalhadores, que se sentiram ameaçados pela revisão de pensões, do seguro social e outras alterações, manipuladas numa campanha bem orquestrada pela mídia.
Esta, por sua vez, implantou o medo e o terror de que a crise econômica deixaria o país arrasado. Porém, em nenhuma ocasião os porta-vozes da crise apontaram suas causas, mas apenas alardearam  seus efeitos; e o mesmo pode ser dito do governo.
Ora, a todo efeito corresponde uma causa e o governo deveria ter explicado à população. A causa não esclarecida está na crise do próprio sistema econômico, cada vez mais concentrado, controlado por um reduzido grupo de indivíduos, que se tornam mais e mais ricos, às custas de um número crescente de pessoas cada vez mais pobres. Ou seja, a crise decorre do modelo atualmente adotado no mundo e controlado justamente pelos bancos, donos de tudo e de todos nós.
( Amanhã continuamos com a segunda parte ...)

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