O PMDB (Partido do Movimento
Democrático Brasileiro), desde o início da redemocratização do Brasil, em 1985,
tem feito parte de todos os governos, independentemente das tendência
ideológicas ou propostas políticas de cada um.
Muitos de seus expoentes e
líderes, como José Sarney e Moreira Franco, participaram ativamente do regime
ditatorial (1964-1985). José Sarney foi
presidente do PDS (partido da ditadura, que sucedeu a ARENA) e Moreira Franco
foi candidato pelo PDS ao governo do Estado do Rio de Janeiro em 1982, sendo
derrotado, nas urnas, pelo governador Leonel de Moura Brizola, do PDT (Partido
Democrático Trabalhista).
Com efeito, alguns integrantes do
PMDB, à época do governo Sarney (1985-1990), aliados a outros agentes do antigo
regime que integravam o PFL (antigo ARENA/PDS e hoje DEM), mais o PTB, tentaram
barrar a constituinte de 1987/1988, sob o argumento de que esta deveria ser
restrita para alguns temas, não podendo estabelecer um processo constituinte
geral. A despeito dessa tentativa de impedimento (com consta registrado no
livro “Poder Constituinte”, de autoria de J. Bernardo Cabral), foi inaugurada a
assembleia constituinte que deu origem à Constituição de 1988.
Na constituinte de 1987/1988, integrantes
do PMDB fizeram parte do “centrão”, movimento político composto por
constituintes reacionários, que tentaram barrar as propostas que visavam assegurar
os direitos e garantias individuais e sociais, que consagraram a Constituição
de 1988, definida como “cidadã” pelo presidente da Constituinte à época, Ulysses
Guimarães.
A partir dos anos 1990 (depois
das tentativas fracassadas de Ulysses Guimaraes, em 1989, e de Orestes Quércia,
em 1994), o PMDB abdicou de disputar, diretamente, a eleição presidencial, e se
especializou em participar de coalisões com diversos governos, ocupando ministérios e
variados cargos de primeiro escalão no governo federal.
Neste ponto, o PMDB do “centrão”
da constituinte e das “coalisões” dos governos democráticos traz o ranço
histórico do patrimonialismo político brasileiro (em que o público se confunde
com o privado), no qual valem as regras do “compadrio” e do “filhotismo”.
Assim, em todos os governos, sem
exceção, o partido controlou bem a distribuição de cargos na administração
pública federal, principalmente na ocupação de postos-chave em órgãos e departamentos do governo federal, com
atuação nos diversos estados da federação brasileira; participou, também, na
nomeação de magistrados para os variados tribunais superiores e regionais federais
e do trabalho.
No Brasil urbano do século XXI a
atuação do partido é semelhante à política exercida pelas velhas oligarquias dos
senhores coronéis (que conquistaram o poder do estado brasileiro, de forma
organizada e estruturada, na transição da monarquia para a República, no final
do século XIX), cujos efeitos se percebem até os dias de hoje, mesmo depois dos
governos liderados pelo Partido dos Trabalhadores (PT).
O PMDB que, no dia 29 de março de
2016, rompeu formalmente com o governo do PT, para tentar se limpar da lista
“suja” da construtora Odebrecht (mais uma vez vazada pelo juiz primário do
Paraná, em flagrante usurpação da competência do Supremo Tribunal Federal, que
se mantém calado). Seu objetivo, com o gesto, é tentar tomar (na marra) o
governo, forçando o “impeachment
inexequível” (Orpheu Santos Salles) de
uma presidenta da República que não cometeu delito de qualquer natureza; ao
contrário, a absurda acusação que pesa contra ela (retoricamente denominada
pelos reacionários de “pedalada fiscal”) foi contrair e pagar empréstimo em
bancos públicos do governo federal para implementar políticas públicas em favor
do povo pobre e sofrido do Brasil.
Para o analista político, o
interessante, neste momento, é saber como se comportará o PMDB, partido que,
nos últimos 31 anos, ficou viciado em ocupar cargos públicos no governo federal
e, a partir de agora, se comprometeu a entregar todas as posições para votar a
favor do impeachment. Será que consegue?
Porém, o PMDB enfrenta graves
acusações contra suas lideranças, com diversos processos por corrupção
tramitando na Justiça brasileira, como os dos presidentes da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal; e tem um vice-presidente da República, que não
recebeu um voto sequer, mas não renunciou ao seu cargo, apesar do partido não mais integrar o governo do
Partido dos Trabalhadores desde o dia 30 de março de 2016.
Sem ocupar cargos o PMDB não é o
PMDB, pois deles depende para sobreviver. Por mais rápido que possa ser o
processo de impeachment, o partido sabe que durará um tempo razoável (alguns meses)
e não tem certeza de deter a maioria de votos para aprová-lo, seja na Câmara
como no Senado. Este último ainda terá que ratificar o recebimento, ou não, do
pedido de impedimento da presidenta. Somente depois de aceito o pedido de
impeachment é que começará o julgamento no Senado Federal, sob o comando do
presidente do Supremo Tribunal Federal.
Ou seja, até a aceitação do
pedido de impedimento poderá se passar muito tempo. Então, como ficará o
partido, que não sabe viver sem cargos públicos nem fazer oposição?
Na verdade, ao romper com o governo,
o PMDB fez todo o bem para o PT, pois ficou claro para a opinião pública que a
jogada dos peemedebistas é oportunista. Esta percepção popular prejudica os
projetos do golpista PSDB (de FHC, José Serra e Aécio Neves) e seus partidos
parceiros (DEM, PPS e PSB), pois agora
terão que posar nas fotografias com deputados e senadores acusados formalmente
por corrupção. Quem quer sair na foto com corrupto? Na cabeça dos políticos
brasileiros, isto faz perder votos e, como a votação do impeachment será aberta,
o parlamentar terá que declarar se está votando pelo Brasil/democrático ou
pelos corruptos e golpistas.
Envolvido pelo açodamento do não
tão “esperto” presidente da Câmara e do vice-presidente da República
oportunista e golpista, o PMDB cometeu seu haraquiri (“ritual japonês de
suicídio ritual, que consiste em rasgar o próprio ventre com uma pequena
espada”).
Por tudo isto, hoje, dia 31 de
março de 2016 (cinquenta e dois anos após o fatídico dia 1º abril de 1964),
todos os homens e mulheres de boa vontade, no Brasil, têm que sair às ruas para
defender a democracia e dizer: Não vai
ter golpe, vai ter luta!
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