O atual presidente do Conselho Federal da
Ordem dos Advogados do Brasil, que manifesta deliberadamente o sentimento mais
reacionário desde o seu discurso de posse, não
foi eleito diretamente pela categoria dos advogados.
A campanha promovida pelo atual
presidente da OAB, em favor da diminuição da arrecadação tributária, faz corar
de vergonha toda uma categoria, que tem sua marca na luta pela defesa da
democracia e do estado de direito.
Não é papel do Conselho Federal aderir a
propostas de representações comerciais ou industriais, estas sim com
legitimidade para postular – certo ou errado – pela redução da carga tributária.
A OAB tem legitimidade constitucional
para defender a democracia, e não para ser contra ela, ou, então, contra o
estado de direito, que tem sido violentado diretamente por ações de
representantes do poder judiciário, como visto pela prática do juiz primário
paranaense.
A Ordem dos Advogados não manifestou
formalmente qualquer repulsa nem requereu o afastamento ou prisão do “famoso”
juiz, que confessou a prática de um grave delito, ao divulgar para a mídia
tradicional a interceptação telefônica do telefone do Palácio do Planalto.
A OAB se omite de tudo o que é importante
neste momento e assume a posição de porta-estandarte do golpe em curso. Isto
afeta diretamente o prestígio da categoria dos advogados, no caso de uma
ruptura institucional que mergulhe o país numa luta de força políticas e sociais, como se tem encaminhado nestes
últimos dias do mês de março de 2016. E se vier uma nova ditadura, como ficarão
os advogados, no exercício do seu ofício?
A escolha do presidente do conselho
federal se dá por acordo, que passa na maior das vezes por rodízios entre as
regiões do país. Muitos destes acordos
têm um traço típico do patrimonialismo brasileiro, em que interesses pessoais
ou de grupos oligárquicos prevalecem, mesmo que de forma subliminar.
A eleição para os conselhos e subseções
estaduais ocorre de forma direta, com os advogados elegendo os nomes constantes
de uma lista fechada, que determina quem serão os dirigentes locais e os conselheiros
federais. Na eleição da OAB não há respeito à proporcionalidade, que retira da
participação dos seus conselhos qualquer espaço para as minorias opositoras. Ou
seja, não existe pluralidade política nesta representação, pois não é
respeitado o mínimo de votos atribuídos às chapas opositoras, que, assim, não
têm qualquer representação no conselho estadual ou federal.
As campanhas para a OAB – como as
campanhas eleitorais que envolvem os partidos políticos – também sofrem do
mesmo mal da força do capital; quem não consegue dinheiro ou bons
patrocinadores financeiros para suas campanhas tem dificuldade para se eleger,
na medida em que as campanhas exigem cada vez mais recursos financeiros para a divulgação
das candidaturas.
O Presidente do Conselho Federal – antes
de tudo – deveria reconhecer a origem de sua eleição, que não é direta, mas tem
reflexo imediato nos financiamentos para a formação das chapas/listas que
indicam os nomes para o Conselho Federal.
De um lado, o presidente do conselho federal da categoria
dos advogados, escolhido por votação indireta, coloca-se a serviço do que há de
mais atrasado no país e tenta se contrapor a uma presidenta da República eleita
pelo voto direto de mais de 53
milhões de brasileiros e que não cometeu
nenhum delito.
O curioso é que o presidente da OAB
federal não manifesta nenhuma posição sobre a atuação dos presidentes da Câmara
dos Deputados ou do Senado Federal, que respondem pela prática de crimes comuns
no Supremo Tribunal Federal, mas não foi feito nenhum pedido de afastamento
pelo moralista bâtonnier.
Hoje
iniciaremos uma campanha nacional de coleta de assinaturas, junto aos
advogados, para pedir o impeachment do atual presidente da OAB, uma vez que sua
descabida proposição colabora para a violação do já combalido estado
democrático de direito, na medida em que utiliza o nome da instituição para
promover factoides e jogar o país numa luta que poderá gerar uma guerra civil.
Sem equilíbrio, que o presidente da OAB
parece não ter, haverá guerra, e não paz!
O texto de Jorge Folena se agrega ao dos PROFESSORES E PROFESSORAS DA FACULDADE DE DIREITO da UnB qual seja Carta Aberta.
ResponderExcluir