A direita reacionária no
Brasil, com sua tentativa de golpe para derrubar o governo legítimo de Dilma
Roussef, eleito no final de 2014 pelo voto da maioria do povo brasileiro, conseguiu
uma façanha: a politização do Brasil.
Os grupos reacionários
de direita, desde o início de 2015, pensaram que conseguiriam derrubar com
facilidade o governo da presidenta Dilma, pela força e com o apoio dos meios de
comunicação social tradicionais.
A livre manifestação e a
liberdade de expressão são direitos sagrados de todos, mesmo das pessoas que
defendem posições ultrarreacionárias e fascistas, como visto em muitas
passeatas. Porém, o exagero destes segmentos, somado à atuação de políticos de
origem oligárquica de direita, fez o Brasil se tornar politizado, levando as
pessoas a discutir o destino do país, o que até pouco tempo era um tabu na vida
social brasileira, na medida em que, indevidamente, “política, religião e
futebol” não eram admitidos como tema de discussão.
A direita e o oligopólio
de comunicação social, com os respectivos excessos cometidos em sua “Conquista do Estado”, criaram um campo de
resistência para as forças progressistas, que nesta fase lutam, de forma
organizada, para fortalecer a democracia no país; o que não se viu antes, em
1964; ressalvada a luta dos gaúchos liderados por Leonel de Moura Brizola, em
1961, na “cadeia da legalidade”.
A direita conseguiu unir
toda a esquerda, até mesmo a mais radical, no processo de manutenção da ordem
democrática, passando a ter dificuldade para formar o quórum de dois terços da
Câmara dos Deputados, necessário para que seja ainda aceito o pedido de
abertura do processo de impeachment da Presidenta Dilma, que não cometeu
nenhum crime. Além disso, esclarece-se que, mesmo aceito o pedido de abertura,
não significa que o mesmo seguirá adiante, na medida em que necessita se
ratificado também pelo Senado Federal, que só depois iniciará o julgamento, sob
o comando do presidente do Supremo Tribunal Federal, sendo juízes do processo
político os demais membros do Senado; devendo ser assegurado o devido processo
legal, o contraditório e a ampla defesa. Trata-se,
portanto, de um procedimento longo, que gerará muitos desgastes para os
políticos brasileiros e para a mídia, que desinforma o povo sobre o tempo de tramitação
do “inexequível impeachment”.
Por vários cantos do
país, de norte a sul e de leste a oeste, formam-se grupos de resistência que
discutem política, de forma qualitativa e não apegados a valores morais. São
grupos de mulheres, jovens (secundaristas e universitários), idosos, negros,
índios e trabalhadores, debatendo política e criticando a atuação dos
parlamentares golpistas e oportunistas; e até atos do governo, como as
políticas de metas inflacionárias, que só beneficiam aos bancos.
Mesmo a “massa homogênea”
(aparentemente “desinformada” pela mídia tradicional) que se formou para
protestar contra o governo, traduzida na luta pela pura moralidade, rejeita os
políticos tradicionais e oligárquicos, acusados de corrupção e que respondem a
processos na Justiça, como se viu em São Paulo, na marcha do dia 13 de março de
2016, na Avenida Paulista, com o governador Geraldo Alckmin e o senador Aécio Neves, todos do PSDB.
Neste ponto, a massa
descontrolada (pintada de verde e amarelo) também se politizou, ao reagir contra
os políticos oportunistas que incentivaram a marcha contra a chefe do governo
federal, que não tem contra si qualquer acusação de prática de corrupção, ao
contrário do presidente da câmara dos
deputados e dos diversos parlamentares de oposição que neste momento analisam
se aceitam ou não a abertura do processo de impeachment.
Como se vê, seja vestido
de “verde e amarelo” (marca da direita) ou de “vermelho” (marca da esquerda), o Brasil se politizou e isto é um grande
sinal para a política brasileira; sempre limitada a lideranças
personalistas e sem contar com uma tradição de partidos políticos organizados
estruturalmente.
Isto não significa que o
Brasil tenha avançado na organização política partidária, uma vez que aqui inexiste
fidelidade partidária; porém, o país hoje começa a discutir e a fazer política,
o que representa, inegavelmente, luta ou combate, nas ruas, no parlamento e nos
governos.
O nível da legislatura
atual é o pior possível, sendo um reflexo do financiamento privado que tomou
conta, em grau cada vez mais crescente, das campanhas eleitorais; sendo
importante registrar que a decisão do Supremo Tribunal Federal que proibiu o
financiamento privado de campanhas por empresas, que poderia ser válida para a
eleição de 2014, ficou paralisado nas
mãos de Gilmar Mendes por mais de um ano, o que muito contribuiu para a
atual composição negativa do parlamento.
Em razão do
financiamento de campanha, a maioria dos parlamentares estão vinculados
compulsoriamente aos segmentos que bancaram suas eleições, o que compromete o
nível da legitimidade da representação política atual.
Percebe-se que os
parlamentares que abriram o processo de
impeachment contra a presidenta da República, sem qualquer base política
sólida, pagarão uma conta no futuro próximo, pois estão se desgastando junto ao
eleitorado e ficando com a marca de golpistas.
O mesmo ocorre com a
mídia tradicional, patrocinadora do golpe institucional, que já está sentindo a
força inversa do descrédito e, por causa disso, fala, escreve e transmite
imagens para um número cada vez menor de pessoas.
Parece que, realmente, o
Brasil destes últimos treze anos mudou (2003-2015) e agora se vê a presença
ativa de uma periferia e de um subúrbio que antes não se manifestavam, mas neste
momento se apresentam ao debate político. A direita conseguiu a façanha que ela
nunca desejou, qual seja: a de politizar uma sociedade!
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