Em
1963, o cineasta italiano Luchino Visconti apresentou nas telas do cinema o
filme “Il gattopardo”, vencedor da Palma de Ouro e que teve atuações de Burt
Lancaster, Claudia Cardinale e Alain Delon. O filme, baseado na novela de Giuseppe
Tomasi di Lampedusa, retrata a adaptação
e adesão de uma família nobre do sul da Itália que, no período de unificação
daquele país, procura manter seu status, diante da nova estrutura de poder político
que se instala com o advento da república, a partir da invasão da Sicília pelas
tropas de Garibaldi.
O
nosso personagem (“o gato pardo”) também se adaptou à nova estrutura política
implantada no Brasil a partir de 1985, com o fim da ditadura militar-civil
(1964-1985), que foi denominada de “Nova República” e cujo poder foi assumido
pelo PMDB, por meio de eleição indireta promovida pelo Congresso Nacional, com
a eleição de Tancredo Neves (presidente, que não tomou posse) e José Sarney
(vice-presidente eleito indiretamente, que assumiu o poder com o falecimento do primeiro).
Trata-se
de Wellington Moreira Franco. Moreira, assim conhecido no meio político, foi
prefeito da Cidade Niterói (1977-1982) pela ARENA/PDS (partido da ditadura). Em
1982, candidatou-se ao governo do Estado do Rio de Janeiro pelo PDS, com total
apoio do último presidente ditador, João Batista Figueiredo.
Mas
foi derrotado na eleição por Leonel de Moura Brizola do PDT, que, no entanto,
somente conseguiu que sua eleição pelo voto popular fosse reconhecida depois de
denunciar a tentativa de fraude construída mediante o chamado caso
“Proconsult”, conforme noticiou à época o Jornal do Brasil, forte concorrente do Jornal O Globo (da mesma
organização empresarial ora acusada de manipular as informações jornalísticas
em favor do golpe em curso no Brasil de 2016).
No
“caso Proconsult”, segundo denunciado, agentes do regime ditatorial trabalhavam
para contabilizar votos brancos e nulos em favor do candidato do PDS, o nosso
“gato pardo”.
Com
a vitória de Brizola, em 1982, seu governo, que durou de 15 de março de 1983
até 15 de março de 1987, teve como grande marca a introdução das escolas
públicas de ensino integral, conhecidas como CIEPS (Centros Integrados de
Educação Pública) e apelidados
popularmente de “Brizolões”; projeto idealizado e colocado em prática por
grandes educadores, como os professores Darcy Ribeiro e Maria Yeda Linhares,
que seguiram os passos de Anísio Teixeira.
Porém,
depois de terminada formalmente a
ditadura, em 1985, muito agentes do antigo regime ditatorial, como José Sarney
(ex-presidente do PDS) e Moreira Franco migraram para o PMDB e continuam até
hoje a agir.
Em
1986, Moreira retomou sua candidatura ao governo do Estado do Rio de Janeiro
contra o professor Darcy Ribeiro (vice-governador e candidato de Brizola). Numa
denominada “Aliança Liberal”, que contou com o apoio de mais de 13 partidos, conseguiu
vencer o professor Darcy e se elegeu governador. Durante a campanha, Moreira
Franco – como é típico dos candidatos de direita - tinha como programa de
governo “varrer a violência do Estado, no prazo de seis meses”, porque “seu
nome é Moreira” (bordão da sua campanha). Ou seja, para Moreira Franco, o
problema da violência (de forma subliminar) eram os pobres, que moravam em favelas
da Cidade do Rio de Janeiro e na Baixada Fluminense; redutos que, segundo a
direita, asseguraram a vitória de Brizola em 1982 e, por isso, tinham que ser
combatidos.
Moreira
Franco assumiu o governo do Estado do Rio de Janeiro em 15 de março de 1987. Não
conseguiu, logicamente, acabar com a violência até o final de seu mandato, como
prometera; ao contrário, a violência aumentou e muito. Entre as primeiras medidas do “gato pardo”, uma foi a extinção dos
CIEPS, chamados pela direita de outdoor de propaganda do Brizolismo, uma
praga a ser destruída; e outra foi abrir diversos buracos de metrô pela cidade
do Rio de Janeiro.
O
governo de Moreira Franco foi um fracasso; tanto é que na eleição de 1990,
Brizola retomou, pelo voto, o governo do Rio de Janeiro, para tentar desfazer
todo o estrago social que Moreira Franco causou ao Estado do Rio de Janeiro em
sua gestão.
Hoje,
em 11 de abril de 2016, Moreira Franco é
um dos grandes articuladores da tentativa de golpe político contra a presidente
Dilma Rousseff, que nenhum delito cometeu, mas que os reacionários -
associados a alguns políticos sob os quais recaem graves acusações de prática
de crimes perante o Supremo Tribunal Federal – querem a qualquer custo apeá-la
do poder.
Moreira
Franco – o político que acabou com o
maior projeto educacional feito no Brasil e que, se tivesse sido levado adiante
poderia ter ajudado a transformar mais rápido a face do Brasil pobre – hoje
é o homem que se apresenta como arauto da moralidade (defendida por muitos que
marcham de verde e amarelo nas ruas brasileiras).
Por
tal razão e muitas outras, não se pode acreditar nesta tentativa de golpe, por
meio de um “inexeqüível impeachment”. Qualquer deputado que vote pela abertura do
impeachment estará ao lado de Moreira Franco, o “gato pardo” da “Nova
República” (que acabou com o mais bem estruturado projeto de educação para
crianças na história do país), e
será, assim, cobrado nas urnas pelo povo pobre e explorado. Todos os
parlamentares precisam ter em mente que a
votação na Câmara dos Deputados será aberta e, assim, poderão ser identificados
os amigos de Moreira, Michel, Cunha e Cia. Estes deputados terão, sem dúvida, o
mesmo destino de Aécio Neves, que tentou botar fogo no país, ao não aceitar a
derrota nas urnas, e que hoje não é aceito nem pela “massa de verde e amarelo”,
como ocorreu no dia 13 de março de 2016, na Avenida Paulista.
A História é
implacável com os golpistas, como “o gato pardo”, que nunca mais teve votação
possível para retornar ao poder, nem na cidade de Niterói, em que foi prefeito!
Quem viveu aquela época em Niterói ou no estado do Rio, conhece esse gato safado.
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