O advogado paraguaio Martín Almada, em
dezembro de 1992, descobriu documentos secretos numa delegacia de polícia em
Assunção, no Paraguai, que ficaram conhecidos como os arquivos da Operação
Condor. Inicialmente se imaginava que tal “operação” fosse uma ação conjunta e
coordenada pelos governos das ditaduras da América do Sul, nos anos setenta do
século XX, para troca de informações, aprisionamento de perseguidos políticos e
ensinamento de práticas de torturas, que contou com o auxílio da agência de
“inteligência” (espionagem) da Central de Informação Americana (CIA).
Porém, com o aprofundamento dos estudos
dos arquivos descobertos, sabe-se hoje que a Operação Condor foi uma
organização criada para atuar não apenas na América do Sul, como força de apoio
aos governos ditatoriais implantados na região, mas foi, principalmente, uma criação da inteligência americana, ao
final da Segunda Guerra Mundial, a partir de 1944, para levar adiante os
projetos imperialistas dos Estados Unidos da América do Norte pelo mundo.
Sob o argumento de se combater o comunismo soviético, a partir da “guerra
fria”, os serviços secretos americanos e ingleses cooptaram agentes nazistas
alemães e fascistas italianos para a formação desta grande organização, que
contou com o apoio institucional dos militares europeus na formação da OTAM
(Organização do Tratado Militar do Atlântico Norte).
Os agentes nazifascistas, que antes
lutavam contra a União Soviética, passaram então a combater os comunistas, por
meio de organizações secretas e paramilitares. Um dos primeiros alvos foram os
comunistas italianos em 1951, como denunciou Giulio Andreotti, na medida em que
o Partido Comunista Italiano era nacionalmente respeitado pelo papel central
que desempenhou junto à resistência ao fascismo, durante a Segunda Guerra.
Todas estas revelações foram comprovadas
ao longo da exaustiva pesquisa realizada pela cientista política americana J.
Patrice McSherry e estão à disposição no seu livro “Os estados depredadores: a
Operação Condor e a guerra encoberta na América Latina”.
No caso latino-americano, a Operação
Condor foi posta em execução mediante uma associação entre as elites
oligárquicas, de origem caudilhista e coronelista (no caso brasileiro), que
temiam os avanços de governos e políticas populares (denominados pela direita reacionária de “comunistas” e “populistas”).
Além disso, as referidas “elites” se alinharam aos interesses econômico-financeiros
norte americanos na região.
Como descreve McSherry, a Operação Condor
foi um instrumento utilizado para desarticular os movimentos políticos populares
denominados de esquerda (que correspondem a governos reformistas nacionalistas,
como o trabalhismo, no Brasil, e o peronismo, na Argentina). Seus agentes
atuaram para garantir os interesses das elites locais na manutenção do poder
contra a população e facilitando o avanço das empresas com capital de origem nos
Estados Unidos da América do Norte (EUA) sobre a economia e na exploração dos
recursos dos países. O objetivo dessas ações era aumentar a esfera de
influência dos EUA sobre os países da América do Sul, tendo em vista a guerra
fria contra a União Soviética, que, por seu turno, anexou vários países no
leste europeu.
Uma das táticas empregadas pelas elites
cooptadas na Operação Condor foi manipular a
mídia e a informação para estabelecer o estado de terror, utilizado como meio
para controlar a sociedade e manter o poder político.
Uma sociedade aterrorizada perde a
capacidade de articulação e elege como seu inimigo principal a massa pobre. Daí
a presença dos “esquadrões da morte” durante a época das ditaduras na América
do Sul, em ações que se percebem ainda hoje, com nitidez, no assassinato
sistemático de jovens nas periferias das cidades latino-americanas.
Também é uma extensão ainda hoje da
Operação Condor a criação de “guetos” nas comunidades pobres latino-americanas,
mediante a ocupação por “polícias pacificadoras”, que tornam a violência e a
crueldade ainda mais presente nestes locais, onde impera o estado de exceção
dentro de um débil estado de direito.
Neste dia 16 de abril de 2016, o que se
vê em nosso país (e também nos demais países da América Latina que se
insurgiram contra esta dominação política predatória, implantada pelos norte-americanos,
ainda em vigor mesmo depois do fim da “guerra fria”), é uma nova tentativa de retomada do poder, mediante o uso da força
institucional/jurídica (e não militar), operada pelas antigas elites
reacionárias/oligárquicas, que agem para restabelecer os interesses econômicos
estrangeiros sobre o mercado e as riquezas do Brasil, num pacto de lesa-pátria.
Como ação ainda recomendada pela Operação
Condor, as elites locais procuram destituir uma presidenta eleita pela maioria
do povo brasileiro (e que nenhum delito cometeu) para, em ato seguinte, formalizar,
como recompensa, a entrega dos campos de
petróleo do Pré-sal (como propõe o Senador José Serra, integrante do mesmo
PSDB de Aécio Neves e Fernando Henrique Cardoso); a revogação da legislação trabalhista, um legado da “era Vargas” (em
proposta defendida pelo processado criminalmente presidente da Câmara dos
Deputados e pela ala majoritária do seu partido, o PMDB, por meio do senador
Romero Jucá); a redução para 16 anos da
idade para ser processado criminalmente (como propõem o deputado
reacionário Bolsonaro e outros deputados que se intitulam “cristãos
evangélicos”, como o presidente da Câmara dos Deputados e “pastor” Feliciano); transferir para o Parlamento a atribuição
de demarcar terras indígenas, como propõem deputados ligados à reacionária
união dos ruralistas (UDR e integrantes da “bancada da terra e do boi”) etc.
Os golpistas brasileiros do momento atual
são piores do que os de 1964, porque são
incapazes de respeitar qualquer direito adquirido e o ato jurídico perfeito. Ou seja, nesta associação perigosa em que o
Brasil se vê envolvido, você que é hoje aposentado, amanhã poderá deixar de
ser; sua propriedade, conquistada pelo trabalho, poderá ser expropriada sem
qualquer indenização, na medida em que o respeito aos direitos elementares da
democracia e do estado de direito estão sendo violados sistematicamente, diante
de um Poder Judiciário que se mantém em silêncio e colabora para tais violações,
quando, por exemplo, limitou o princípio liberal da presunção de inocência. A
História registra que todas as violações às liberdades liberais sempre partiram
da direita. (Hobsbawm)
Portanto, se esses indivíduos de agora,
no parlamento brasileiro, são capazes de tentar
apear do poder uma presidenta da República (no curso do seu mandato,
conquistado pelo voto da maioria do povo brasileiro nas urnas), que nenhum
crime cometeu, revogar todos os direitos
conquistados pela sociedade, com muita luta e trabalho, será fácil para este
grupo político, caso “conquistem o Estado” pela força institucional/jurídica,
como pretendem fazer por meio de um “inexequível impeachment”.
Diante de tudo isto, é possível
estabelecer, como hipótese, que a Operação Condor está ativa e em pleno curso,
na tentativa de golpe no Brasil de 2016.
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