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OPERAÇÃO CONDOR EM CURSO NO GOLPE NO BRASIL DE 2016

O advogado paraguaio Martín Almada, em dezembro de 1992, descobriu documentos secretos numa delegacia de polícia em Assunção, no Paraguai, que ficaram conhecidos como os arquivos da Operação Condor. Inicialmente se imaginava que tal “operação” fosse uma ação conjunta e coordenada pelos governos das ditaduras da América do Sul, nos anos setenta do século XX, para troca de informações, aprisionamento de perseguidos políticos e ensinamento de práticas de torturas, que contou com o auxílio da agência de “inteligência” (espionagem) da Central de Informação Americana (CIA).
Porém, com o aprofundamento dos estudos dos arquivos descobertos, sabe-se hoje que a Operação Condor foi uma organização criada para atuar não apenas na América do Sul, como força de apoio aos governos ditatoriais implantados na região, mas foi, principalmente, uma criação da inteligência americana, ao final da Segunda Guerra Mundial, a partir de 1944, para levar adiante os projetos imperialistas dos Estados Unidos da América do Norte pelo mundo. Sob o argumento de se combater o comunismo soviético, a partir da “guerra fria”, os serviços secretos americanos e ingleses cooptaram agentes nazistas alemães e fascistas italianos para a formação desta grande organização, que contou com o apoio institucional dos militares europeus na formação da OTAM (Organização do Tratado Militar do Atlântico Norte).
Os agentes nazifascistas, que antes lutavam contra a União Soviética, passaram então a combater os comunistas, por meio de organizações secretas e paramilitares. Um dos primeiros alvos foram os comunistas italianos em 1951, como denunciou Giulio Andreotti, na medida em que o Partido Comunista Italiano era nacionalmente respeitado pelo papel central que desempenhou junto à resistência ao fascismo, durante a Segunda Guerra.
Todas estas revelações foram comprovadas ao longo da exaustiva pesquisa realizada pela cientista política americana J. Patrice McSherry e estão à disposição no seu livro “Os estados depredadores: a Operação Condor e a guerra encoberta na América Latina”.
No caso latino-americano, a Operação Condor foi posta em execução mediante uma associação entre as elites oligárquicas, de origem caudilhista e coronelista (no caso brasileiro), que temiam os avanços de governos e políticas populares (denominados  pela direita reacionária de “comunistas” e “populistas”). Além disso, as referidas “elites” se alinharam aos interesses econômico-financeiros norte americanos na região.
Como descreve McSherry, a Operação Condor foi um instrumento utilizado para desarticular os movimentos políticos populares denominados de esquerda (que correspondem a governos reformistas nacionalistas, como o trabalhismo, no Brasil, e o peronismo, na Argentina). Seus agentes atuaram para garantir os interesses das elites locais na manutenção do poder contra a população e facilitando o avanço das empresas com capital de origem nos Estados Unidos da América do Norte (EUA) sobre a economia e na exploração dos recursos dos países. O objetivo dessas ações era aumentar a esfera de influência dos EUA sobre os países da América do Sul, tendo em vista a guerra fria contra a União Soviética, que, por seu turno, anexou vários países no leste europeu.
Uma das táticas empregadas pelas elites cooptadas na Operação Condor foi manipular a mídia e a informação para estabelecer o estado de terror, utilizado como meio para controlar a sociedade e manter o poder político.
Uma sociedade aterrorizada perde a capacidade de articulação e elege como seu inimigo principal a massa pobre. Daí a presença dos “esquadrões da morte” durante a época das ditaduras na América do Sul, em ações que se percebem ainda hoje, com nitidez, no assassinato sistemático de jovens nas periferias das cidades latino-americanas.
Também é uma extensão ainda hoje da Operação Condor a criação de “guetos” nas comunidades pobres latino-americanas, mediante a ocupação por “polícias pacificadoras”, que tornam a violência e a crueldade ainda mais presente nestes locais, onde impera o estado de exceção dentro de um débil estado de direito.
Neste dia 16 de abril de 2016, o que se vê em nosso país (e também nos demais países da América Latina que se insurgiram contra esta dominação política predatória, implantada pelos norte-americanos, ainda em vigor mesmo depois do fim da “guerra fria”), é uma nova tentativa de retomada do poder, mediante o uso da força institucional/jurídica (e não militar), operada pelas antigas elites reacionárias/oligárquicas, que agem para restabelecer os interesses econômicos estrangeiros sobre o mercado e as riquezas do Brasil, num pacto de lesa-pátria.
Como ação ainda recomendada pela Operação Condor, as elites locais procuram destituir uma presidenta eleita pela maioria do povo brasileiro (e que nenhum delito cometeu) para, em ato seguinte, formalizar, como recompensa, a entrega dos campos de petróleo do Pré-sal (como propõe o Senador José Serra, integrante do mesmo PSDB de Aécio Neves e Fernando Henrique Cardoso); a revogação da legislação trabalhista, um legado da “era Vargas” (em proposta defendida pelo processado criminalmente presidente da Câmara dos Deputados e pela ala majoritária do seu partido, o PMDB, por meio do senador Romero Jucá); a redução para 16 anos da idade para ser processado criminalmente (como propõem o deputado reacionário Bolsonaro e outros deputados que se intitulam “cristãos evangélicos”, como o presidente da Câmara dos Deputados e “pastor” Feliciano); transferir para o Parlamento a atribuição de demarcar terras indígenas, como propõem deputados ligados à reacionária união dos ruralistas (UDR e integrantes da “bancada da terra e do boi”) etc.
Os golpistas brasileiros do momento atual são piores do que os de 1964, porque são incapazes de respeitar qualquer direito adquirido e o ato jurídico perfeito.  Ou seja, nesta associação perigosa em que o Brasil se vê envolvido, você que é hoje aposentado, amanhã poderá deixar de ser; sua propriedade, conquistada pelo trabalho, poderá ser expropriada sem qualquer indenização, na medida em que o respeito aos direitos elementares da democracia e do estado de direito estão sendo violados sistematicamente, diante de um Poder Judiciário que se mantém em silêncio e colabora para tais violações, quando, por exemplo, limitou o princípio liberal da presunção de inocência. A História registra que todas as violações às liberdades liberais sempre partiram da direita. (Hobsbawm)
Portanto, se esses indivíduos de agora, no parlamento brasileiro, são capazes de tentar apear do poder uma presidenta da República (no curso do seu mandato, conquistado pelo voto da maioria do povo brasileiro nas urnas), que nenhum crime cometeu, revogar todos os direitos conquistados pela sociedade, com muita luta e trabalho, será fácil para este grupo político, caso “conquistem o Estado” pela força institucional/jurídica, como pretendem fazer por meio de um “inexequível impeachment”.
Diante de tudo isto, é possível estabelecer, como hipótese, que a Operação Condor está ativa e em pleno curso, na tentativa de golpe no Brasil de 2016.


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