Pular para o conteúdo principal

NOITE TRISTE PARA A DEMOCRACIA NO BRASIL - RESPONSABILIDADE DO STF NA VIOLAÇÃO DA DEMOCRACIA

Como temos escrito nestes dois últimos meses, a democracia e o estado de direito foram violados no Brasil, pela associação entre os políticos das velhas oligarquias dos coronéis, os acusados por prática de corrupção no parlamento, os meios de comunicação social e o Poder Judiciário.
Esta associação do enxofre - como manifestou um deputado - triunfou nesta tarde e noite do dia 17 de abril de 2016, no Brasil.
Falaram tanto em Deus, na votação da abertura do impeachment da Presidenta Dilma, que dá até para duvidar da existência de tanta fé reunida, diante de tantos homens e mulheres debochados, que esqueceram que estavam sendo visto ao vivo e a cores por milhões de pessoas em todo mundo. Teve um deputado de Minas Gerais (estado onde Aécio Neves do PSDB tem seu "curral eleitoral") que retomou o microfone, depois de ter votado, para homenagear o seu filhinho pelo ato de "patriotismo" praticado pelo papai, naquela negra sessão.
Manifestaram tanto carinho com pais, mães, mulheres, amantes e netos, que ficou nítido o festival de cinismo declarado, na medida em que, ao mesmo tempo, destilavam ódio contra um  governo popular e uma mulher presidenta da República, eleita diretamente pelo voto de mais de 54 milhões de brasileiros.
Foi tanta traição, tanto descaramento, que deu para ficar enjoado.
Mas o grande responsável pelo vexame nacional deste dia, - que o mundo presenciou, - foi o Supremo Tribunal Federal (STF). 
Este tribunal (considerado por  muitos cientistas sociais como o grande "protagonista político", no século XXI) permitiu que tudo isto ocorresse livremente e que um homem cínico e acusado por grave crime de corrupção pudesse comandar o  julgamento  e estabelecer o destino político de um país.
O STF se omitiu na sua quase totalidade (ressalvado Marco Aurélio de Mello), diante da flagrante violação da constituição, que o tribunal tem a missão de ser seu guardião, como gostam de dizer de boca cheia seus juízes.
Este processo de impeachment foi a forma engendrada para apear do poder uma presidenta da República, eleita pela maioria do seu povo, sem ter cometido qualquer delito. O STF teve oportunidade para dizer que este procedimento é irregular e nada fez; ao contrário, o legitimou ao estabelecer por duas vezes as regras do indevido julgamento pela Câmara dos Deputados. Por isso, com tristeza, não é possível confiar no Tribunal.
Agora, o decano Celso de Mello não pode mais falar em republicanismo - que ele tanto gosta de manifestar em seus votos -, porque a frágil e quase inexistente  República - que pressupõe igualdade e transparência, que não há nos tribunais brasileiros -  foi jogada no lixo por culpa do STF, que permitiu que um acusado por corrupção e tantos outros deputados sob a mesma ou outras graves imputações criminais atuassem livremente no plenário de votação da Câmara dos Deputados.
Estes deputados inclusive já declararam (como fez o tal de Jair Bolsonaro, que costuma dizer que determinadas mulheres não servem nem para ser estupradas)  que Eduardo Cunho foi o grande herói da noite; abrindo caminho, assim,  para os ⅔ deles o anistiarem na Comissão de Ética da Câmara dos Deputados das acusações de improbidade e quebra de decoro parlamentar, o que não existe no parlamento brasileiro.
Nesta hora, muita gente rica e que se diz contra a corrupção (que se fantasiou de verde e amarelo) deve estar festejando, nos restaurantes caros e nos salões das altas rodas, a abertura do processo de impeachment, votado por deputados acusados de corrupção. 
Como diz uma grande amiga filósofa: "até o corrupto é contra a corrupção"; não é Cunha?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

SEQUESTRO DAS NAÇÕES PELO CAPITAL

Foto de Aly Song/Reuters O jornalista Andy Robinson, em seu livro “Um repórter na montanha mágica” (Editora Apicuri, 2015), revela de que forma os integrantes do exclusivo clube dos ricos de verdade comandam a política universal, a partir da gelada Davos, e patrocinam a destruição de nações inteiras para alcançar seus objetivos econômicos particulares. Muito antes que alguns cientistas sociais cunhassem a expressão “tropa de choque dos banqueiros”, ao se referirem ao grupo considerado como classe média, Robinson desvendou como aqueles menos de um por cento da população universal manipulam sem qualquer piedade os outros noventa e nove por cento, inclusive promovendo ações sociais de suposta bondade, que contribuem para aumentar e perpetuar a miséria entre os povos. Ao falar sobre as mencionadas ações caritativas, patrocinadas por bilionários como Bill Gates e o roqueiro Bono da banda U2, Slavoj Zizek rotulou seus realizadores   de “comunistas liberais”, que manipulam org...

Superação do fascismo no Brasil

A nau dos loucos de H. Bosch Por Jorge Folena   Infelizmente, as instituições têm normalizado o fascismo no Brasil. E foi na esteira dessa normalização do que deveria ser inaceitável que, na semana passada circulou nas redes sociais (em 02/07/2024) um vídeo de treinamento de policiais militares de Minas Gerais, em que eles corriam pelas ruas cantando o refrão “cabra safado, petista maconheiro”. [1] O fato configura um absurdo atentatório à Constituição, pelo qual todos os envolvidos (facilmente identificáveis) deveriam ter sido imediatamente afastados das suas funções, inclusive sendo determinadas prisões disciplinares, e, em seguida, sendo processados administrativa e criminalmente.  Outro caso esdrúxulo foi o de um desembargador do Paraná, que em plena sessão de julgamento, não teve qualquer escrúpulo em derramar toda a sua misoginia, ao criticar o posicionamento de uma mulher (o caso analisado no tribunal era de uma menina de 12 anos, que requereu medida protetiva contra a ...

O país ingovernável

  Por Jorge Folena   No dia 27 de julho de 1988, o ex-presidente José Sarney, com certo tom de ameaça, dirigiu-se aos constituintes, em cadeia nacional de rádio e televisão, para afirmar, ao longo de vinte e oito minutos, que o texto constitucional que estava para ser aprovado deixaria “o país ingovernável”.  Na verdade, José Sarney manifestou na ocasião os interesses mais atrasados da classe dominante brasileira, que entendia que o reconhecimento dos amplos direitos sociais inseridos na Constituição brasileira de 1988 teria um grande impacto sobre o orçamento geral da União, controlado para satisfazer apenas os interesses dos muito ricos, deixando os pobres entregues à própria sorte. É importante lembrar, por exemplo, que, antes da Constituição de 1988 não existia o sistema único de saúde com atendimento universal para todos os brasileiros.  E o presidente Sarney, com o velho e surrado argumento, afirmava que o novo texto constitucional representaria um desencorajam...