Hoje,
dia 22 de abril de 2016, data em que lembramos o início do processo de
colonização do Brasil pela coroa portuguesa, a presidenta Dilma Rousseff teve
diante de si a maior tribuna do mundo, na Organização das Nações Unidas (ONU), local
propício para denunciar o golpe contra a democracia no Brasil e a tosca
tentativa de sacá-la do poder (conquistado pelo voto da maioria do povo
brasileiro na eleição presidencial de 2014), promovida por um grupo de
políticos acusados de corrupção, cujo cinismo é tanto que afirmam fazê-lo em
nome de Deus e pedindo “misericórdia pelo Brasil”, como fez o tal presidente da
Câmara dos Deputados.
Toda
uma expectativa foi criada em torno da fala da presidenta na ONU, nesta manhã.
O mundo pensou que ela fosse nomear cada um dos golpistas, desde os integrantes
da chapa presidencial eleita (como o vice-presidente e seu partido o PMDB), do parlamento,
do Judiciário, dos meios de comunicação social, do empresariado etc.
Os
golpistas estavam em pânico desde ontem, feriado nacional por Tiradentes, e
muitos não saíram de casa, como o vice-presidente, que atua à semelhança de
Joaquim Silvério dos Reis.
Mas Dilma
não pronunciou nenhuma palavra explicativa sobre o golpe; nada disse com
clareza sobre a quebra da democracia nem sobre os políticos acusados de
corrupção que querem derrubá-la. Pelo discurso da até então presidenta parece
que as coisas no Brasil correm às mil maravilhas.
O
Brasil, na cabeça de Dilma, vai cumprir as metas ambientais apresentadas na ONU,
por meio do agronegócio, por meio das empresas associadas à Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo (FIESP) e da “inteligência nacional”, inteiramente comprometida
com os interesses estrangeiros, a quem querem entregar o Pré-sal e as outras
riquezas naturais e culturais.
Infelizmente
não vi “a Dilma, coração valente”, por quem lutei para ser reeleita no final de
2014 (contra a aliança dos coronéis à frente de um fraco como Aécio Neves) e para
mantê-la no poder, até agora.
O
que teme Dilma? Ela, desde o início, perdeu a oportunidade de se consagrar como
a primeira mulher a governar o Brasil. Escolheu um ministério péssimo para seu
segundo mandato, tendo posto à frente do ministério da Fazenda o bancário
Joaquim Levy, que trabalhou sistematicamente para agravar o quadro político e econômico do país. Manteve um ministro da
Justiça fraco, que não tinha nenhum controle sobre a polícia federal, e um
serviço de inteligência que lhe permitiu ser interceptada diversas vezes, seja
por estrangeiros ou brasileiros, como fez ilegalmente o juiz “absolutamente
incompetente”.
Hoje,
mesmo com todo o apoio de milhares de pessoas defensoras da democracia, ela
deixou escapar sua maior oportunidade de tentar sobreviver, que seria provocar uma
reação dos organismos internacionais, e ficou inerte diante de um Senado
Federal que levantará mais restrições a ela do que já apresentou a Câmara dos
Deputados.
À Dilma, agora, só resta Deus (cujo nome os
deputados tanto anunciaram em vão, no domingo 17 de abril) para assegurar o seu
governo; pois a presidente não sabe se defender e tem medo, sei lá do que!
No
golpe de abril de 1964, João Goulart não reagiu, com medo de um derramamento de
sangue nas ruas do país. Esse mesmo temor pode rondar o pensamento de Dilma
neste momento; ou seja, das consequências de uma possível guerra civil, na
medida em que, na noite do dia 21 de abril , milhares de pessoas tomaram a
avenida Paulista, em São Paulo, em defesa da democracia, no mesmo sentido de
outros movimentos, em curso pelo país.
Caso
a democracia não seja retomada, a reação dos movimentos sociais poderá conduzir
a um racha político no Brasil, que ficará ingovernável, seja sob o aspecto da
eclosão de uma guerra ou da realização de prisões arbitrárias que serão
praticadas por um governo ilegítimo.
Por
fim, se os movimentos sociais contra o golpe sitiarem a Praça dos Três Poderes,
não existirá força política (nem no Parlamento nem no Judiciário ou na mídia
tradicional) suficiente para sacar Dilma do Palácio do Planalto, a não ser que
utilizem os métodos da força extrema.
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