Pular para o conteúdo principal

ENTREVISTA: Prisão em segunda instância aumenta risco de abuso judicial, alerta advogado

Segundo o cientista político e membro do Instituto de Advogados Brasileiros (IAB) Jorge Rubem Folena, o projeto aprovado nesta terça-feira (10) pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado, que possibilita a prisão de condenados após decisão em segunda instância é um “casuísmo”, que afronta decisão recente do Supremo Tribunal Federal. O STF determinou, de acordo com a Constituição, que só é possível a prisão depois de esgotados todos os recursos. O Projeto de Lei do Senado (PLS) 166/2018 é de autoria de Lasier Martins (Podemos-RS)
Folena afirma que o princípio da presunção de inocência serve para evitar abusos e está presente em tratados internacionais, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que completou 71 anos nesta terça (10). “Essa garantia que o Senado e a Câmara, de forma casuística, querem tentar superar é uma garantia à pluralidade. Para evitar abusos. Essa é a origem histórica da presunção de inocência”, afirmou o advogado à jornalista Marilu Cabañas, para o Jornal Brasil Atual, nesta quarta-feira (11).
Esse casuísmo, segundo ele, é levado a cabo por um grupo de senadores ligados ao ministro da Justiça, Sergio Moro, e aos procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato, “contaminados” pelo perseguição judicial que tem como principal alvo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A relatora do projeto, senadora Juíza Selma (Podemos-MT), apelidada de “Moro de Saias“, foi cassada também nesta terça pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por caixa dois e abuso de poder econômico cometidos durante a eleição do ano passado.
“Enquanto tivermos a política brasileira contaminada por uma perseguição judicial, não vamos avançar. (…) Na verdade, não se pode acabar com recursos para as cortes superiores. Será, mais uma vez, rasgar a Constituição do Brasil. Não podemos continuar nessa aventura, que está destruindo o Brasil. Em 2016, tivemos um golpe contra a Constituição. Agora que o STF restabeleceu a ordem, volta o Parlamento com esse debate, sempre conduzido pela Lava Jato”, disse o advogado.
Ele comparou o caso atual com episódio ocorrido em 2013, quando o STF decidiu que promotores e procuradores do Ministério Público têm também a prerrogativa de conduzir investigações, assim como os policiais. Quando deputados chegaram a propor uma mudança constitucional (PEC 37) para limitar os poderes dos integrantes do Ministério Público, eles se insurgiram, alegando casuísmo. “Agora o mesmo princípio não vale. A Lava Jato acha que pode tudo.”
Na entrevista, Folena também comenta o último episódio da perseguição da Lava Java contra Lula, dessa vez envolvendo o seu filho.





Ouça a entrevista completa













"

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

GOVERNO LULA SOB ATAQUE: a conspiração lavajatista continua

     Foto de Ricardo Stuckert Por Jorge Folena O Governo Lula ainda não completou 100 dias, não tomou qualquer medida dura contra o mercado financeiro nem conflitou com a classe dominante, porém os lacaios de sempre já disparam sua ofensiva nos meios de comunicação tradicional,  a fim de tentar domesticar o presidente.  Nesta última semana,  entre os dias 20 e 22 de março, a visita de Xi Jin Ping a Vladimir Putin deixou  definitivamente evidente a formação do mundo multipolar e o processo de declínio do império anglo-americano, que ao longo de mais de dois séculos de dominação não apresentou qualquer alternativa de esperança e paz para os povos do mundo; ao contrário, deixou um legado de guerras, destruição, humilhação e exploração. Exatamente ao final daquele encontro e diante dos preparativos para a viagem do Presidente Lula à China, o céu desabou sobre a cabeça do representante do Governo brasileiro, que está sendo atacado pelos lavajatistas plantados pelo Departamento de Justiça no

GARANTIA DA LEI E DA ORDEM: incompatível com a República

Proclamação da República, Benedito Calixto, 1893. Por Jorge Folena [1]   Em agosto de 2019, diante das pressões políticas de grupos autoritários e da tentativa de fortalecimento da extrema-direita na Alemanha, foi retomado o debate naquele país sobre “os três erros fundamentais da Constituição de Weimar”, que completava cem anos naquela oportunidade. Os três erros da mencionada constituição seriam os artigos 24, 48 e 53 que, respectivamente, previam em linhas gerais que: (a) o presidente poderia dissolver o parlamento; (b) o presidente poderia, com a ajuda das forças armadas, intervir para restabelecer a segurança e a ordem pública; e (c) a nomeação do primeiro ministro como atribuição do presidente. Como afirma  Sven Felix Kelerhoff [2] ,   essas regras eram “herança da constituição do império”, que a ordem republicana, introduzida em Weimar  em 1919, não foi capaz de superar e possibilitaram a ascensão do nazismo de Hitler, na Alemanha, a partir de 1933. Para nós no Brasil é muito im

INÍCIO DA TEMPORADA DE CAÇA AOS OPOSITORES DO GOVERNO

Caçada na floresta, Paolo Uccello, 1470  Por Jorge Folena [1]   Divirjo totalmente do governador do Estado do Rio de Janeiro, eleito em 2018 na onda da extrema direita, que empregou métodos de propagação de mentiras sistemáticas pela rede mundial de computadores, com forte evidência de abuso de poder econômico, como está sendo examinado pelo Tribunal Superior Eleitoral em relação à chapa vencedora, de forma questionável, na eleição presidencial. O governador do Rio de Janeiro não apresentou, até aqui, qualquer política pública para melhorar a vida da população pobre do Estado, mas incentivou, desde o primeiro dia de seu governo, a continuação de práticas policiais abomináveis e desumanas, tendo sugerido à polícia “mirar na cabecinha” para o abate de seres humano. Contudo, mesmo com todas as divergências contra o governador, não é possível aceitar, com passividade, o seu afastamento do cargo por decisão liminar proferida por um ministro do Superior Tribunal de Justiça; que, em verdade,