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A EXPLORAÇÃO NO MUNDO EM 2016 - PARTE I

Em todo mundo (inclusive no Brasil, neste momento) estão sendo exigidos mais aumentos de tributos (particularmente sobre o consumo), redução do pagamento de pensões aos idosos, ampliação da idade para a concessão de aposentadorias, redução de gastos sociais, congelamento de salários, mais privatizações, concessões etc.
É a imposição das forças hegemônicas, lideradas pelos banqueiros, contra todas as formas de organização do trabalho (aí incluídos a legião de miseráveis, os desempregados, os que lutam para se manter em seus empregos formais e aqueles submetidos a relações precarizadas de trabalho).
Tal imposição, hoje, alcança até mesmo o que restou de segmentos empresariais, como comerciantes, industriais e prestadores de serviços, que resistem para manter suas atividades econômicas fora do controle direto ou indireto dos bancos (que manipulam o setor produtivo com a cobrança de taxas exorbitantes de juros e custosos serviços bancários).
No atual contexto histórico, o conceito de luta de classes está mais evidente do que nunca, pois a exploração do trabalho está mais contundente do que nos séculos XIX e XX, uma vez que todos os indicadores econômicos e sociais revelam uma concentração de renda tão brutal que possibilita que “o passado devore o presente”. (Thomas Piketty)
Num  cenário em que o número dos mais ricos é cada vez menor, ao passo que aumenta a concentração de pobres e miseráveis, é necessário retomar a reflexão, proposta por Rousseau no século XVIII, sobre as causas e origens das desigualdades sociais, que persistem em pleno século XXI e consistem “nos diferentes privilégios desfrutados por alguns em prejuízo dos demais”.
Do alto de sua superioridade e privilégios, os ricos exploram todos os recursos da terra numa cobiça quase desmedida. A fim de manter este processo exploratório, é preciso desviar o olhar da sociedade. Para isso, implantam um estado de medo e tensão que provoca a impressão de que a desordem social é causada pelos pobres e miseráveis, e não por eles e seu modo de vida esbanjador.

Nesse quadro de violência direcionada contra os pobres, a classe hegemônica e rica propõe, por todos os cantos, a ampliação da construção de penitenciárias (preferencialmente privatizadas e exploradas para dar lucro aos seus concessionários). A sociedade, amedrontada, não consegue perceber que o aumento das penas de restrição de liberdade e a diminuição da idade penal tem como finalidade manter abastecido o lucrativo sistema carcerário, em que as pessoas provavelmente ficarão mais tempo detidas.

(Amanhã continua ...)

Bibliografia:
AGAMBEN, G. Estado de excepção. Lisboa: Edições 70, 2010.
AGOSTINHO, S. Sobre a potencialidade da alma. Petrópolis, Vozes, 1997.
LOSURDO, D. A luta de classes: uma história política e filosófica. São Paulo, Boitempo, 2015.
PIKETTY, T. O capital do século XXI.  Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014.
ROUSSEAU, J.J. O contrato social. São Paulo: Editora Cultrix, 1995.
WOOD, E.M. Democracia contra capitalismo: a renovação do materialismos histórico. São Paulo: Boitempo, 2011.
ZIZEK, S. Violência. Seis notas à margem. Lisboa: Relógio D’Água, 2009.


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