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POR QUE SE DEIXOU VAZAR A LISTA DA ODEBRECHT?

Em meu artigo anterior, “A resistência nas entranhas da besta”, formulei a seguinte questão: que interesse tem o Poder Judiciário em fazer chegar ao conhecimento da sociedade a lista dos políticos que receberam dinheiro da construtora, sendo que na lista não estão os nomes da presidenta Dilma nem do ex-presidente Lula, mas de todos os outros importantes políticos defensores do golpe institucional?
Depois da divulgação da lista temos visto um movimento, organizado por partidos que se diziam integrantes da base do governo no Parlamento, para abandonar a aliança com o Partido dos Trabalhadores e, assim, passar a impressão de que se pode justificar o golpe institucional, pela via do impeachment de uma presidente que não praticou delito de qualquer natureza.
Ou seja, o vazamento da lista (que logo depois foi selada pelo segredo judicial) foi muito bem pensado, para tentar mais uma vez implodir o governo, diante de lideranças políticas que viram seus nomes na lista “suja” e, por isso, preferem aderir à uma suposta nova ordem, a fingir que estão “limpos” do dinheiro recebido, muito provavelmente para suas campanhas eleitorais.
O PMDB – partido tomado por adesistas do antigo regime autoritário – tem quase todas as suas atuais lideranças respondendo a processos criminais, no Supremo Tribunal Federal; igualmente os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, os quais continuam no exercício de suas funções, a despeito de graves acusações, sem sofrer qualquer impedimento, num grande festival de cinismo.
Para os moralistas reacionários só valem as supostas irregularidades do Partido  dos Trabalhadores; seus protegidos são uns “santos” (inclusive agora o PMDB), mesmo com os nomes em listas de propinas de empresas públicas de energia, compra de trens  e obras do metrô superfaturadas.
Ora, ora, o que ocorre no Brasil, neste março de 2016, é muito grave, diante do golpe que a mídia tradicional e seus aliados tentam, pela retórica, dizer que não existe.
Tanto existe que os meios de comunicação social não atacam nem pedem o afastamento dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.
O processo de impeachment é um instrumento para assegurar a democracia e não para justificar golpes institucionais, como têm arquitetado os inimigos do Partido dos Trabalhadores e da Presidenta da República.
Com efeito, quando um juiz primário (isto é, de primeiro grau) manifesta publicamente que cometeu um grave crime e nada acontece contra ele, está claro que existe um golpe em curso e que não se consolidou porque há uma forte resistência das forças populares, que mantém o governo e a presidenta no cargo para o qual foi eleita, pela maioria dos brasileiros, para governar o país até o final de 2018.
Quando ministro do Supremo Tribunal Federal, como Celso de Mello (o mais antigo e com raízes no antigo regime autoritário) manifesta – sem qualquer pudor e deliberadamente - que a presidenta deve ser afastada, está mais claro do que nunca que existe um golpe (diga-se pela terceira vez) e querem – mais uma vez – nos fazer crer nas mentiras que repetem todos os dias até minar as resistências populares.
Mas acredito e tenho esperança que não vão conseguir, porque não trazem em seus corações a convicção da verdade e da vida nova, uma vez que todos – sem exceção – vivem com a cabeça num passado que jamais irá retornar!
O juiz primário do Paraná, quando deixou escapar a lista da Odebrecht, sabia o que fazia e, mesmo afrontando mais uma vez o STF (pois na lista há nomes de parlamentares sobre os quais recai a competência investigativa exclusiva daquele tribunal), ele tinha pleno conhecimento de que  nada irá lhe acontecer, porque exerce direitinho o papel a ele atribuído nesta farsa; mas ele se esquece de que, uma vez cumprida a sua missão, será lançado no mais completo ostracismo, como já fizerem com Joaquim Barbosa e Collor de Mello, aquele que um dia foi nomeado pela TV Globo como o “caçador de Marajás” e trazia estampada na sua campanha eleitoral as cores da bandeira nacional: verde, amarelo, azul e branco; qualquer semelhança com os que hoje empunham tais cores em sua marchas pela moralidade nacional não será mera coincidência.

Por fim, como registrei em meu livro “Do conflito ao Equilíbrio” (2016, pág. 83/84), ao final da República de Weimar, na Alemanha, boa parte do poder político foi entregue aos tribunais, a exemplo do que tem ocorrido no Brasil nos últimos anos. Como consequência, fez ganhar força o nazi-fascismo, que aterrorizou o mundo com perseguições e provocou a morte de milhões de pessoas.

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