Pular para o conteúdo principal

O PALHAÇO NO CIRCO DOS HORRORES



A partir de junho de 2013, forças políticas internas e externas começaram a ser movimentadas no Brasil com o objetivo de desestruturar o governo popular da Presidente Dilma Rousseff, filiada ao Partido dos Trabalhadores; políticos de origem conservadora (ligados ao campo e a estruturas religiosas) e liberais de origem urbana  uniram-se num movimento muito bem orquestrado e que contou com amplo apoio dos meios de comunicação social; desta forma, lograram conduzir o indevido impedimento de uma presidente da República, que foi afastada de suas funções sem ter cometido qualquer ilícito, seja de natureza política ou jurídica.
    Nesse grande conluio, as instituições políticas e militares nada fizeram para garantir a ordem constitucional; ao contrário, com todo o cinismo permitiram que a Constituição fosse rasgada, enquanto, de forma dissimulada, diziam que a vontade popular deveria ser cumprida; vontade essa expressa por marchas de pessoas de pele branca (na maioria), vestidas de verde e amarelo nas ruas brasileiras e contaminadas por um sentimento anti-petista insuflado e mantido artificialmente pela mídia.
Deste modo equivocado para a democracia, foi brutalmente interrompido o segundo mandato da presidenta reeleita no final de 2014, que deveria ter sido cumprido entre primeiro de janeiro de 2015 e primeiro de janeiro de 2019.
Dilma Rousseff foi afastada provisoriamente de suas funções em 12 de maio de 2016, para nunca mais voltar ao poder e sem que o seu questionamento jurídico acerca de todo esse processo tivesse sido julgado pelo Supremo Tribunal Federal, que analisou vários outros temas posteriores, mas omitiu-se em manifestar-se completamente quanto ao indevido e inconstitucional impeachment.
Com essa quebra da normalidade democrática, assumiu o poder o então vice-presidente Michel Temer, que impôs uma forte política ultraliberal, que paralisou a economia e fez a pobreza retornar sem piedade sobre a população mais vulnerável do país; um país muito rico, mas que, hoje, mais uma vez, tem uma imensa parcela da população empobrecida e sem esperança de futuro.
   Este jogo perigoso com a democracia, que foi patrocinado por uma aliança que contou com a participação de conservadores, liberais e apoiadores da ditadura militar  de 1964-1985 (com forte viés fascista e sem qualquer respeito à Constituição), desestruturou o Brasil e enfraqueceu completamente suas instituições.
Neste ponto, os homens e as mulheres que estavam e estão à frente das instituições escolheram virar suas costas para a realidade que se anunciava e permitiram, algumas vezes por omissão e outras até mesmo por opção de classe, que a Constituição fosse reiteradamente descumprida; abrindo caminho, a partir do ano de 2018 (principalmente com o indevido encarceramento e o impedimento do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva de participar da eleição presidencial daquele ano), para que o poder fosse ocupado efetivamente por pessoas que sempre manifestaram ódio e preconceito, desrespeito à democracia e às instituições liberais e aos movimentos sociais organizados; indivíduos que sempre foram declaradamente favoráveis à tortura, à repressão e à violência policial; que se colocaram sem nenhum pudor contra o que chamam de “politicamente correto” (respeito à pluralidade,  às minorias e à laicidade), que deixou de existir no Brasil, depois de 1º de janeiro de 2019.
O Brasil de hoje está sendo tomado por ataques violentos, que circulam na rede mundial de computadores, contra as instituições políticas (Câmara dos Deputados, Senado Federal e Supremo Tribunal Federal), mas também contra muitos políticos conservadores e liberais que orquestraram a queda da presidente Dilma Rousseff; que são agora colocados ao lado de expressivos líderes de esquerda e representantes de movimentos sociais; todos sendo rotulados de “comunistas” e acusados de agir de forma contrária aos interesses do líder messiânico e seu grupo, sobre quem pesam fortes acusações de envolvimento com grupos paramilitares, que aterrorizam e extorquem a população pobre em muitas cidades brasileiras.
    A elite do país, representada pelo palhaço vestido com a faixa presidencial, que distribuiu bananas dentro do Palácio do Alvorada, possibilitou a quebra de mais um símbolo da república: a própria  instituição da Presidência da República! Esta mesma elite permitiu que o fascismo tomasse de assalto o país, violentando a todo momento a Constituição, a ordem democrática, a soberania nacional e expondo o pior de uma sociedade: o desprezo por seu próprio povo e país!
     Sendo assim, diante da gravidade da situação e para reverter o quadro de instabilidade política, social, econômica e jurídica que nos abateu desde 2013, estão abertas as condições objetivas para iniciarmos, urgentemente, a luta contra o fascismo e as forças do mercado financeiro, que têm sangrado o Brasil, nossos recursos naturais e a população; o que somente será possível com a fundação de novas instituições, efetivamente alicerçadas na soberania popular.
A elite fracassou e colaborou para que os princípios liberais fossem destruídos. Diante disso, o país precisa se libertar dos conceitos equivocados de subserviência que nos foram impostos e permitiram a ascensão do palhaço com faixa presidencial, que distribui bananas e comete diariamente crimes contra a segurança nacional.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

GOVERNO LULA SOB ATAQUE: a conspiração lavajatista continua

     Foto de Ricardo Stuckert Por Jorge Folena O Governo Lula ainda não completou 100 dias, não tomou qualquer medida dura contra o mercado financeiro nem conflitou com a classe dominante, porém os lacaios de sempre já disparam sua ofensiva nos meios de comunicação tradicional,  a fim de tentar domesticar o presidente.  Nesta última semana,  entre os dias 20 e 22 de março, a visita de Xi Jin Ping a Vladimir Putin deixou  definitivamente evidente a formação do mundo multipolar e o processo de declínio do império anglo-americano, que ao longo de mais de dois séculos de dominação não apresentou qualquer alternativa de esperança e paz para os povos do mundo; ao contrário, deixou um legado de guerras, destruição, humilhação e exploração. Exatamente ao final daquele encontro e diante dos preparativos para a viagem do Presidente Lula à China, o céu desabou sobre a cabeça do representante do Governo brasileiro, que está sendo atacado pelos lavajatistas plantados pelo Departamento de Justiça no

GARANTIA DA LEI E DA ORDEM: incompatível com a República

Proclamação da República, Benedito Calixto, 1893. Por Jorge Folena [1]   Em agosto de 2019, diante das pressões políticas de grupos autoritários e da tentativa de fortalecimento da extrema-direita na Alemanha, foi retomado o debate naquele país sobre “os três erros fundamentais da Constituição de Weimar”, que completava cem anos naquela oportunidade. Os três erros da mencionada constituição seriam os artigos 24, 48 e 53 que, respectivamente, previam em linhas gerais que: (a) o presidente poderia dissolver o parlamento; (b) o presidente poderia, com a ajuda das forças armadas, intervir para restabelecer a segurança e a ordem pública; e (c) a nomeação do primeiro ministro como atribuição do presidente. Como afirma  Sven Felix Kelerhoff [2] ,   essas regras eram “herança da constituição do império”, que a ordem republicana, introduzida em Weimar  em 1919, não foi capaz de superar e possibilitaram a ascensão do nazismo de Hitler, na Alemanha, a partir de 1933. Para nós no Brasil é muito im

INÍCIO DA TEMPORADA DE CAÇA AOS OPOSITORES DO GOVERNO

Caçada na floresta, Paolo Uccello, 1470  Por Jorge Folena [1]   Divirjo totalmente do governador do Estado do Rio de Janeiro, eleito em 2018 na onda da extrema direita, que empregou métodos de propagação de mentiras sistemáticas pela rede mundial de computadores, com forte evidência de abuso de poder econômico, como está sendo examinado pelo Tribunal Superior Eleitoral em relação à chapa vencedora, de forma questionável, na eleição presidencial. O governador do Rio de Janeiro não apresentou, até aqui, qualquer política pública para melhorar a vida da população pobre do Estado, mas incentivou, desde o primeiro dia de seu governo, a continuação de práticas policiais abomináveis e desumanas, tendo sugerido à polícia “mirar na cabecinha” para o abate de seres humano. Contudo, mesmo com todas as divergências contra o governador, não é possível aceitar, com passividade, o seu afastamento do cargo por decisão liminar proferida por um ministro do Superior Tribunal de Justiça; que, em verdade,