Nesta
semana infeliz de 10 a 14 de julho de 2017, presenciamos o assassinato dos
sonhos e das esperanças de um povo explorado, que viu revogada a legislação
social do trabalho (CLT) por um parlamento que representa somente os interesses
dos muito ricos, e assistimos, mais uma vez, as manifestações de ódio contra o
ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, pelo cometimento do “crime” de
alimentar o corpo e a autoestima de quem antes nunca teve vez no Brasil.
Os
povos primitivos manifestam um tabu pelo qual se deve respeitar os inimigos, ainda
que abatidos pela morte decorrente da disputa.
Freud, em Totem e Tabu (obras completas volume 11, Companhia das letras,
p. 71) expressa que “esses povos são
dominados por um supersticioso medo dos espíritos dos homens abatidos (...) e
neles enxergamos expressão de arrependimento, de apreciação do inimigo, de
má consciência por ter-lhe tirado a
vida. Quer nos parecer que também nesses selvagens está vivo o mandamento ‘Não
matarás’, que não pode ser violado impunemente, muito antes de qualquer
legislação comunicada por um deus.”
O
juiz primitivo do Paraná desconhece o direito natural dos povos primitivos de
respeitar os inimigos e, tal qual Nêmesis, tem sua mente contaminada pelo
desejo de abater física e moralmente aquele a quem elegeu como seu inimigo,
imaginando que irá ficar impune.
Juízes
como este, ao invés de purificarem seus espíritos, servem de instrumento do
ódio e praticam o mais duro deboche contra o povo simples e humilhado. Pois quase
ao mesmo tempo em que se levanta o estandarte da condenação de Lula, livram da
cadeia vários políticos malfeitores e lhes devolvem seus mandatos parlamentares
para que possam aprovar uma draconiana reforma trabalhista, que corta direitos
de trabalhadores e trabalhadoras, lançando-os em uma quase escravidão.
Condenar
Lula, da forma como a anunciada, para satisfazer os interesses políticos de
seus inimigos e para impedi-lo politicamente de disputar uma eleição, exigirá
um severo ato de expiação e purificação, o que não é possível para esse juiz e
para os demais envolvidos, no governo e no parlamento.
O
juiz do Paraná não tem consciência dos rituais do tabu para libertar pelo mal
causado ao homem abatido, como ressaltado por Freud. O certo é que, na tradição
dos povos originários, deve-se respeitar com muito zelo os inimigos; caso
contrário, o espírito daquele que desonra o tabu arderá no fogo e os fantasmas rondarão
sua mente, como descrito nas peças Hamlet, Macbeth e Ricardo III, de Willian
Shakespeare.
O
ódio desmedido já matou a mulher de Lula, violenta seus descendentes e serve de
pretexto para eliminá-lo politicamente; porém, tudo isto não atinge somente o
ex-presidente, mas principalmente os mais de quarenta milhões de brasileiros
que saíram da linha da miséria e hoje regressam a essa triste posição.
Com
efeito, “os homens são artífices de sua
própria história”; e a história que esses juízes e parlamentares constroem
para si é muito triste, pois se apresenta tomada de rancor e preconceito.
Por
tudo isto, a história será implacável contra todos os que utilizam o ódio como
instrumento de vingança política.
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