Pular para o conteúdo principal

O QUE ESPERAR DEPOIS DE BOLSONARO?

Os operários, Tarsila do Amaral, 1933.

Por Jorge Folena
Pelos constantes atos de instabilidade política, provocados desde o dia 1º de janeiro de 2019 até hoje, o Governo Bolsonaro não se sustentará. Nem o apoio equivocado dado pelo setor militar será suficiente para mantê-lo no poder. Pois, sem o equilíbrio de forças políticas e sociais, nada se sustenta!
Tanto é que muitos dos que o apoiavam já entraram em rota de colisão, como parte expressiva dos meios de comunicação social, empresários e artistas, que se omitiram mas consentiram. Em breve, até os banqueiros, que ganharam muito dinheiro com as medidas ultraliberais de Paulo Guedes (o ex-posto Ipiranga) irão  abandonar o barco, pois está além de qualquer defesa quem agride diariamente os princípios básicos da ordem liberal burguesa, brinca com a vida e zomba da morte de milhares pelo COVID-19.
O abandono do navio não se dará pelo total descontrole da crise sanitária do COVID-19 e suas graves consequências, mas porque, em mais de um ano e quatro meses de governo, nenhuma medida de proteção e defesa da sociedade brasileira foi efetivada; nada mais que a vergonha tem sido imposta ao país, por um presidente fascista, que agride a tudo e a todos, ao mesmo tempo.
Contudo, é importante registrar que não será tarefa fácil derrotar o bolsonarismo, em razão das articulações sociais bizarras, doentias, violentas e oportunistas que o movimento representa, mas tudo indica que o desequilíbrio e a instabilidade permanente  conduzem ao fim do governo, seja agora ou mais adiante.
Por isso, já começam as movimentações de alinhamento pós-Bolsonaro, revelando o fracasso que recai sobre a geração de militares que assumiram posições políticas em diversos cargos no atual governo, antes ocupadas por civis. Fracasso que atinge também o estamento judicial e burocrático, que alimentou o processo que levou o suposto mito ao poder, cuja melhor representação é a Lava jato, comandada por Sérgio Moro e os procuradores da República de Curitiba.
Para a construção desse tipo de alinhamento, convergem forças sociais diversas, que contarão com a representação de trabalhadores urbanos, camponeses, movimentos sociais, intelectuais, burocracia, religiosos esclarecidos, empresários nacionalistas e muitos outros, que, no passado recente, denegriram a soberania do país e defenderam a exploração das forças do trabalho.
Porém, esses grupos não toleram mais tantas ameaças à ordem democrática liberal e, assim, tende à formação inicial de um movimento reformista, que procurará manter de pé todo o apoio que deu origem a Bolsonaro (e seu fascismo tupiniquim), que facilitou a quebra da indústria nacional, gerou ganhos fabulosos ao mercado financeiro, alinhamento cego ao imperialismo americano e asfixiou os trabalhadores e movimentos sociais, ao ponto de termos congelados (desde o governo Temer), por 20 anos, os investimentos em setores essenciais como a saúde, educação e ciência e tecnologia. O resultado foi a ampliação do estado exploratório, com o empobrecimento cruel da população e o enriquecimento exponencial dos banqueiros.
Diante disso tudo, as forças populares, progressistas e nacionalistas (que defendem os interesses dos trabalhadores, dos movimentos sociais, da cultura e da arte e da soberania popular) precisam tomar muito cuidado para não caírem nas mesmas manipulações do passado; como ocorreu em 1984/1985, na Constituinte de 1987/1988 e no fora Collor de 1992, em que as forças exploratórias se uniram a elas na virada histórica para a “revolução democrática”.
Porém, uma vez consolidada a ruptura, as forças populares foram deixadas de fora e os grupos progressistas firmaram um “acordão” com os representantes do antigo regime, para excluir seus comandantes e operadores do julgamento da História, de forma a permitir a negação da memória e impedir a efetivação do programa constitucional democrático, que transformaria a vida de milhões de brasileiros pobres; gente que, ainda hoje, continua relegada à sorte e à miséria.
É o que nos mostra a luta de mais de 40 milhões de brasileiros, premidos pela necessidade de sobrevivência, que enfrentam filas e a doença que assola o mundo, na esperança de receber os meros 600 reais prometidos pelo governo. O que nos revela a insignificância da vida da população para a elite do país. 


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O povo precisa ouvir a voz do Presidente Lula

Por Jorge Folena   Começo  o artigo de hoje  pel o ensinamento  do fil ó sofo e professor italiano Dom en ico Losurdo ,  que ,   e m seu livro Contra- H istória do Liberalismo  d esnuda  o  regime  liberal que ,   com toda a sua  pretensão de comandar o  mundo , é c onst it uído por  graves contradições ;   pois   não é democrático nem respeita as liberdades fundamentais  e , desde a sua fundação, revelou -se   belicista,  exploratório , violento  e autoritário.  Digo isto porque o governo dos Estados Unidos da América , país que  vende para  os demais   a imagem de “ maior democracia do  glob o ” , sem autorização judicial ou acusação  formal,   impediu  recentemente  que Scott Ritter  (cidadão norte-americano e ex-integrante das forças armadas daquele país)  pudesse viajar para  participar d o  F órum  Econômico  de São Petersburgo, na  Rússia . Os agentes do governo  norte- americano  retira ra m Scott  Ritter  de  dentro do avião comercial e apre e nde ram  o seu passaporte. Ou sej

QUE CESSE A VIOLÊNCIA NA PALESTINA!

 Guernica, P. Picasso, 1937 Manifestação de Jorge Folena na sessão de 13/12/2023 do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB)   Boa noite! Venho à tribuna do Instituto dos Advogados Brasileiros, nesta última sessão do ano de 2023, para desejar boas festas a todos os associados e seus familiares, a fim de que tenham um bom natal e um ano novo repleto de realizações! Aproveito a opor tunidade e as festas de final de ano para reforçar o pedido de cessar fogo permanente na Palestina, em particular na região da Faixa de Gaza, onde milhares de crianças, idosos, mulheres e civis indefesos estão morrendo e tendo suas casas, escolas, hospitais e espaço público destruídos e expropriados, de modo indevido, injusto e desigual, como reconhecido por organismos internacionais como a ONU, a OMS e a UNICEF! Lamento não termos uma posição clara e contundente sobre tais acontecimentos, ao contrário do que ocorreu no 8 de outubro, quando nos manifestamos imediatamente.   Por isso, peço que a minha manifes

GOVERNO LULA SOB ATAQUE: a conspiração lavajatista continua

     Foto de Ricardo Stuckert Por Jorge Folena O Governo Lula ainda não completou 100 dias, não tomou qualquer medida dura contra o mercado financeiro nem conflitou com a classe dominante, porém os lacaios de sempre já disparam sua ofensiva nos meios de comunicação tradicional,  a fim de tentar domesticar o presidente.  Nesta última semana,  entre os dias 20 e 22 de março, a visita de Xi Jin Ping a Vladimir Putin deixou  definitivamente evidente a formação do mundo multipolar e o processo de declínio do império anglo-americano, que ao longo de mais de dois séculos de dominação não apresentou qualquer alternativa de esperança e paz para os povos do mundo; ao contrário, deixou um legado de guerras, destruição, humilhação e exploração. Exatamente ao final daquele encontro e diante dos preparativos para a viagem do Presidente Lula à China, o céu desabou sobre a cabeça do representante do Governo brasileiro, que está sendo atacado pelos lavajatistas plantados pelo Departamento de Justiça no