O povo brasileiro, em sua maioria expressiva, entendeu que existe um golpe de estado no Brasil, segundo as últimas pesquisas de opinião.
O
governo não foi derrubado antes porque formou-se uma grande resistência popular,
que tomou as ruas do Brasil, com grandes comícios em quase todas as cidades, em
eventos que ocorreram até a semana da votação da abertura do processo de impeachment
na Câmara dos Deputados.
Aquele
17 de abril de 2016 talvez seja o dia mais negro da História do Brasil, pois
foi quando a população percebeu que os deputados, na sua quase totalidade, não
têm nenhuma credibilidade para o exercício da função e que, na verdade, compraram
seus cargos mediante o dinheiro investido em suas eleições.
O
povo, que se posicionou contra o golpe nas diversas reuniões ocorridas nos
espaços públicos nestes últimos meses no Brasil, manifestou-se por meio de uma
grande frente em defesa da democracia, reconquistada a partir de 1985, no
arranjo político denominado de “nova
república”, num processo de transição ajustado com antigos atores políticos que
serviram fielmente a ditadura militar-civil (1964-195). Muitos destes agentes
políticos civis ainda atuam livremente no país e, a partir de 12 de maio de
2016, assaltam o poder.
O
assalto ao poder está sendo executado por um bando sem credibilidade, composto
por indivíduos que, em sua maioria, respondem por crimes de corrupção, lavagem
de dinheiro, sonegação fiscal e outros desmandos.
Desse
bando também fazem parte aqueles que, no passado recente de nossa jovem
democracia, entregaram as riquezas do país por meio da privatização de empresas
públicas rentáveis e prósperas e impuseram um manual de políticas nocivas aos
trabalhadores e aos pobres do país, seguindo à risca as orientações do Banco
Mundial e do Fundo Monetário Internacional.
Para
esta gente, que tenta tomar o poder a qualquer custo, o Brasil não é para os brasileiros, mas sim para seus interesses
particulares e para a facilitação dos negócios, que, doravante, poderão realizar
com grupos empresariais estrangeiros, abrindo, de vez, “os portos” brasileiros.
A
grande questão do momento é a ausência de resistência da Presidenta Dilma Roussef,
que, no discurso de 1.o de maio, em São Paulo, declarou que iria
lutar por seu governo e não se entregaria aos golpistas.
Política
se faz com luta e resistência, utilizando-se de todas as armas possíveis. Dilma
Roussef, neste momento, conta com o apoio expressivo dos movimentos sociais
organizados e, até mesmo, dos desorganizados, que se colocaram à sua disposição
para defender a democracia no país, ocupando todos os espaços públicos
possíveis.
Porém,
a presidenta Dilma (ao contrário do que manifestou) parece não querer resistir.
Até a manhã de 12/05/2016 ela não veio a público para esclarecer que, mesmo tendo
sido aberto o processo de impeachment no Senado Federal, ela tem o direito de
continuar no Palácio do Planalto, nem determinou que seus ministros continuem na
titularidade de seus cargos, pois o país está diante de um golpe de estado; nem
manifestou que o vice-presidente não é o
presidente do Brasil, posto que continua sendo dela, que foi eleita pela
maioria do povo brasileira e cujo mandato lhe foi outorgado pela soberania
popular até o final de 2018.
Os
que querem assaltar o poder não têm voto, legitimidade nem credibilidade
popular. Muitos são acusados de corrupção, lavagem de dinheiro e sonegação
fiscal. Sabemos que o vice-presidente
(que não é presidente) foi condenado pela Justiça Eleitoral e tornou-se o que a
legislação política brasileira denomina de
político “ficha suja”, e está proibido de concorrer a qualquer cargo
público no país.
A
preocupação que nos toma é que Dilma Roussef possa ter sido mal orientada
juridicamente por seus assessores. O
Advogado Geral da União deixou para questionar judicialmente a validade da
votação da abertura do impeachment na Câmara dos Deputados (ocorrida em
17/04/2016) no dia 10 de maio de 2016,
um dia antes do Senado Federal realizar a sua votação.
Pior
de tudo, o Advogado Geral da União propôs a ação errada e fora do prazo, como constou no despacho do
juiz relator do caso no Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, no mandado de
segurança 34.193.
Para
Teori, Cardozo (o Advogado Geral da União, que não serviu para ser ministro da
Justiça e foi demitido do cargo) não poderia ter impetrado mandado de segurança
– que exige prova pré-constituída – e deveria ter ajuizado a ação no prazo de 120
dias, a contar de 02/12/2015, data em que Eduardo Cunha aceitou o pedido de
processamento do impeachment, que era o ato atacado.
Independentemente
deste lamentável fato, que expôs a fraqueza da assessoria da presidenta, Dilma
também foi mal orientada ao não esclarecer por qual razão deveria demitir seus
ministros para que o vice-presidente possa assumir e nomear outros, até porque
ele não estará assumindo um novo governo, pois o governo eleito continua, e o
papel do vice é exercer, transitoriamente, o cargo, auxiliando o governo para
que Dilma possa se defender pessoalmente no Senado. Não existe a hipótese
constitucional de se dar nova posse a um vice-presidente; sua posse é a mesma
que foi dada a Dilma Roussef em 1.º de janeiro de 2015, quando ambos juraram
cumprir a constituição e honrar o atual governo, eleito pela maioria do povo
brasileiro.
Inexiste
na Constituição a hipótese de destituição de um governo em razão da abertura do
processo de impeachment no Senado. Da mesma forma, a Constituição não estabelece que o vice (que não é presidente) possa
colocar em prática um plano de governo que não foi submetido à soberania popular
e que servirá apenas para atender aos interesses do mercado, com a imposição de
um ajuste fiscal e outras medidas restritivas, que serão muito amargas para
todos os trabalhadores, aí incluída a classe média e os funcionários públicos.
Os
golpistas é que deveriam questionar, judicialmente, a partir de hoje, a
legalidade da ocupação do Palácio do Planalto (o símbolo do exercício do poder
presidencial) por Dilma, bem como o prosseguimento de seu governo e a
continuidade do exercício do cargo por seus ministros.
Dilma
necessita, mais do que nunca, cumprir fielmente o que afirmou em seu discurso
de resistência do dia primeiro de maio e, assim, transferir para os golpistas o ônus de tentar se apossar do
Palácio do Planalto e do governo, submetendo-se ao risco de propor as medidas
jurídicas para a consolidação do golpe.
Por
tudo isto, o golpe fica mais claro do que nunca, na medida em que, de acordo
com as regras do garantismo constitucional, Dilma Roussef não deixou de ser a
presidenta do Brasil com a mera abertura do processo de impeachment no Senado! Dilma
e seu ministério estão amparados pelas normas constitucionais e pela legalidade.
Porém,
tudo faz crer que o Advogado Geral da União omitiu este fato da presidenta e da
sua assessoria. É um absurdo a orientação aos ministros para a entrega dos
cargos e a desocupação do Palácio do Planalto, quando a Constituição nada
estabelece a este respeito.
Faltou
luta, resistência, coragem e competência da assessoria presidencial, que parece
estar mais a serviço daqueles que sonham com a entrega do país a um bando de
oportunistas, acusados judicialmente de corrupção, que almejam impor um governo
sem qualquer respaldo da soberania popular, imaginando que não haverá luta nem
resistência nas ruas do país.
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